Os répteis são uma das classes de animais mais diversas do mundo. Conhecidos pelo seu sangue frio, existem mais de 10 mil espécies diferentes, com uma grande variedade de habilidades e características – desde os lagartos que conseguem congelar durante a noite e descongelar na manhã seguinte, às tartarugas com a sua própria armadura de proteção.
Até há três meses, acreditava-se que a evolução dos répteis tinha acontecido através de grandes e rápidas “explosões geológicas”, proporcionadas por mudanças do ambiente ao longo de milhões de anos. Esta teoria, que reunia um relativo consenso entre a comunidade científica nos últimos setenta e cinco anos, foi refutada em julho por um estudo do investigador brasileiro Tiago Simões, do Departamento de Zoologia Comparativa da Universidade de Harvard.
Cinquenta museus em cinco anos
Entre 2013 e 2018, Tiago visitou mais de vinte países e cinquenta museus, onde recolheu imagens de milhares de fósseis de répteis. No final destes cinco anos, o estudo do investigador brasileiro veio refutar a antiga tese de evolução dos répteis, que explicava como e quando é que estes animais tinham evoluído ao longo dos últimos 300 milhões de anos.
Nestas viagens, Tiago Simões visitou os museus de história natural mais conhecidos do mundo, desde o de Londres, a Berlim, Otava, Pequim, Tóquio e Washington. Em conjunto com outros investigadores, criou e desenvolveu uma base de dados com as imagens recolhidas de fósseis répteis.
Através da análise estatística desta base de dados, a equipa chegou a uma conclusão: a evolução de linhagens já extintas de répteis, que viveram há mais de 250 milhões de anos, deu-se através de pequenas explosões morfológicas ao longo de 50 milhões de anos. São exemplos destas explosões o desenvolvimento de asas para voar ou a formação de armaduras corporais nos animais.
Esta ideia contraria a antiga crença de que o processo de evolução dos répteis se tinha dado num único acontecimento, através de uma “grande explosão”. O início da evolução de várias linhagens de répteis foi um processo mais lento e continuado do que se pensava.
As extinções em massa
Os cientistas acreditam que o estudo da evolução das espécies ao longo de longos períodos de tempo é essencial para compreender o impacto do ambiente nos organismos vivos.
Graças à base de dados elaborada durante cinco anos pela equipa de Tiago Simões, os investigadores conseguiram determinar o início das linhagens de répteis, assim como o impacto da evolução no ADN destes animais e os eventos históricos que a acompanharam ao longo de milhões de anos.
De acordo o estudo da equipa, os répteis já sobreviveram a três momentos de extinção em massa. A maior de todas foi a Extinção de Permiano-Triássico, também conhecida por “Grande Morte”. O nome não foi escolhido ao acaso – há mais de 250 milhões de anos, ela matou mais de 90% das espécies do planeta. Acredita-se que esta extinção foi originada pelo acumular de gases de efeito estufa naturais.
Os investigadores concluíram que a velocidade de evolução dos répteis antes da “Grande Morte” era semelhante à velocidade posterior a esta extinção em massa. No entanto, foi apenas a seguir à “Grande Morte” que os répteis se tornaram espécies dominantes em vários ecossistemas. Por essa razão, Tiago Simões afirma que “a rapidez da evolução anatómica não tem de coincidir com a diversidade genética ou a abundância de espécies”, contrariando a antiga teoria evolutiva dos répteis.
O investigador brasileiro concluiu que esta investigação “demonstra o impacto que as alterações climáticas podem ter à escala global”. No entanto, a equipa não planeia ficar por aqui – “conseguimos perceber melhor quais são as grandes mudanças na história da vida réptil. Agora, vamos continuar a investigar.”