A revista científica The Lancet publicou esta semana um estudo que indica que apenas 5% da população espanhola desenvolveu anticorpos, reforçando a ideia de que a imunidade de grupo é algo “inalcançável”, porque a restante população (95%) de Espanha ainda permanece vulnerável ao vírus. A imunidade do grupo é alcançada quando uma grande parte da população é infetada com o vírus e consegue criar defesas para recuperar da doença.
O estudo espanhol, que contou com mais de 61 mil participantes, é a maior pesquisa feita sobre a Covid-19 até agora, segundo o Centro Europeu para Controle de Doenças. Antes deste, foi apresentado um outro estudo feito sobre os anticorpos da doença que envolvia 2766 pacientes em Genebra, na Suiça, que foi publicado no mês passado.
Apesar de ser o maior estudo feito até à data, o estudo “A prevalência de SARS-CoV-2 na Espanha (ENE-COVID): um estudo soroepidemiológico de base populacional no âmbito nacional” não é único. Houve pesquisas semelhantes na China e nos Estados Unidos e “a principal descoberta destas partes representativas é que a maioria da população parece não ter sido exposta” à Covid-19, “mesmo em áreas com alta circulação de vírus”, lê-se no estudo.
Ainda não se sabe ao certo se com a presença de anticorpos a população fica imune à Covid-19, apesar de estarem a ser realizados testes. Caso se comprove que os anticorpos atuam há mais dúvidas: quanto tempo permanecem no corpo e durante quanto tempo serão eficazes.
“Uma em cada três infeções parece ser assintomática, enquanto um número substancial de casos sintomáticos não foi testado”, lê-se na conclusão do estudo. “Apesar do alto impacto da Covid-19 em Espanha, as estimativas de prevalência permanecem baixas e são claramente insuficientes para fornecer imunidade à comunidade. Isto [a imunidade de grupo] não pode ser alcançado sem a aceitação do dano colateral de muitas mortes na população suscetível e da sobrecarga dos sistemas de saúde”. “Nessa situação, as medidas de distância social e os esforços para identificar e isolar os novos casos e os seus contatos são imperativos”, rematam os autores.
O estudo começou a ser desenvolvido em abril, enquanto o país enfrentava o confinamento e foi conduzido pelas principais agências de investigação e epidemiologia do governo.
“Alguns especialistas calcularam que cerca de 60% da soroprevalência [quantidade de indivíduos numa população que apresentam um determinado elemento no sangue – anticorpos ] pode significar imunidade de grupo. Mas estamos muito longe de atingir esse número”, conclui Marina Pollán, diretora do Centro Nacional de Epidemiologia, à CNN.
O estudo foi realizado em diferentes fases: os resultados da primeira fase do estudo, realizado de 27 de abril a 11 de maio, demonstrou que apenas 5% da população desenvolveu anticorpos; os resultados da segunda fase de estudo foram divulgados em 4 de junho, mostrando uma percentagem nacional de 5,2%, um pouco mais alta que na primeira fase; os resultados da terceira e última fase foram divulgados esta segunda-feira e demonstraram que a percentagem se manteve (5,2%).