CB é uma mulher de 49 anos que, em setembro de 2015, consumiu uma dose de 55 miligramas de LSD, quando pensava que era cocaína. Durante as 12 horas seguintes, a mulher desmaiou e vomitou várias vezes, apesar de manter um discurso bastante coerente, conforme testemunhou a sua colega de quarto.
Mas o mais impressionante nesta história foi o súbito desaparecimento da dor do pé, causada por uma doença crónica que lhe foi diagnosticada aos 20 anos (Lyme). Durante os cinco dias seguintes, esta mulher parou de usar morfina para o tratamento da doença e, apesar de a dor regressar ao final de três dias, conseguiu controlá-la com uma dosagem mais baixa de morfina e uma microdose de LSD a cada três dias.
Além deste caso, Mark Haden, diretor-executivo da Associação Multidisciplinar de Estudos Psicadélicos do Canadá, reuniu histórias semelhantes com finais “estranhamente” felizes: uma adolescente bipolar, de 15 anos, que conseguiu melhorar significativamente o estado de saúde mental depois de tomar uma dose de LSD 10 vezes superior à normal; e outro caso de uma mulher grávida que deu à luz um bebé saudável, mesmo após overdose durante a segunda semana de gestação.
As histórias foram partilhadas no Journal on Alcohol and Drugs no passado mês de janeiro e reabriram a discussão sobre os possíveis benefícios que alguns alucinogénicos podem ter no tratamento de doenças mentais, incluindo adições ou anorexia nervosa.
Este debate foi inaugurado em 1940 nos Estados Unidos e, na altura, foram abertas várias investigações para tentar perceber o impacto destas substâncias no controlo de doenças graves como a ansiedade associada ao cancro, alcoolismo, depressão e stress pós-traumático (TEPT). No entanto, os estudos tornaram-se inconclusivos após o consumo destas substâncias ser proibido durante a década de 60.
Porém, este debate voltou a estar na ordem do dia em 2015 depois de ser publicado um grande estudo americano sobre as características e os efeitos que estas substâncias têm na saúde humana.
A investigação não encontrou ligações entre o uso de LSD (e outros compostos psicoativos, como o cogumelo mágico) e comportamentos suicidas ou problemas de saúde mental. No entanto, os efeitos destas substâncias para os humanos são desagradáveis. Durante as primeiras 14 horas foram registadas sensações de tontura, falta de apetite, boca seca, náuseas e desequilíbrio. Após 72 horas, as dores de cabeça e exaustão aparecem como os sintomas mais comuns.
Os especialistas alertam para que se evite o consumo destas substâncias psicadélicas, enquanto a ciência aprofunda os seus conhecimentos sobre o impacto dos compostos psicoativos em determinadas doenças.
O LSD (Lysergic Acid Diethylamid) foi fabricado pela primeira vez na Suíça em 1938 para o tratamento de distúrbios hemorrágicos, no entanto, a popularidade subsequente como droga recreativa fez os governos de todo o mundo proibir o consumo destas substâncias. Nos Estados Unidos e Reino Unido, o LSD é hoje um medicamento tipo 1, a classificação mais restritiva.