Uma equipa da Universidade de Borgonha realizou uma série de testes em amatitlania nigrofasciatas, uma espécie de pequenos peixes monógamos, naturais da América Central, de modo a avaliar o seu humor e apego emocional. Os investigadores permitiram que 33 peixes fêmeas escolhessem um companheiro masculino e, em seguida, monitorizaram o comportamento das fêmeas quando foram separadas do parceiro que elegeram.
Os investigadores treinaram os peixes para reconhecer e abrir caixas, distinguíveis pela sua cor e posição no aquário: uma caixa “positiva” preenchida com uma recompensa de comida e uma caixa “negativa” vazia. Os biólogos então apresentaram ao peixe uma terceira caixa “ambígua” e mediram as reações das fêmeas antes e depois da separação do seu parceiro. As fêmeas que estavam com seu parceiro eram mais rápidas a investigar a caixa ambígua, mas as que tinham sido separadas do parceiro que escolheram, viam afetada a sua capacidade de resposta à tarefa.
François-Xavier Dechaume-Moncharmont, ecologista comportamental e um dos autores do estudo, disse que esta tarefa “é uma avaliação do seu estado emocional, do otimismo ou do pessimismo”.
A conclusão foi que as fêmeas a quem foi negada a opção de ficar com o parceiro que escolheram tornaram-se mais “pessimistas”, isto é, adotaram uma visão mais negativa quando confrontadas com um obstáculo.
“Se estiver com uma disposição otimista, verá o copo meio cheio. Caso esteja pessimista, vai vê-lo meio vazio. É exatamente o mesmo para os peixes. Nós oferecemos-lhes uma caixa ambígua, e a sua reação a isso corresponde ao seu estado emocional”, explica Dechaume-Moncharmont.
Para além disso, as fêmeas que estavam com o par eleito “investiram mais na reprodução”, desovaram mais cedo e passaram mais tempo a cuidar dos ovos.
“Muitos psicólogos decidiram que apenas os humanos podem sentir alguma emoção pelo seu parceiro, mas com este estudo, nós mostrámos que isso não está correto. Isso vai questionar profundamente o valor adaptativo de tal comportamento”. “Muitas pessoas consideram o amor como uma poluição para as nossas decisões; quando se está apaixonado, pode comportar-se de forma um pouco estranha. Mas talvez essa resposta emocional tenha algum valor adaptativo. Se evoluiu de forma independente em muitas espécies, isso poderia provar que talvez tenha algum valor adaptativo”, acredita o especialista.