A Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistémicos das Nações Unidas reuniu dados provenientes de 50 países e cerca de 455 peritos, para avaliar as transformações no meio ambiente. As conclusões foram divulgadas hoje numa reunião em Paris e os resultados são alarmantes.
Há vários séculos que a Terra sofre as consequências das ações humanas, mas nunca o nosso modo de vida teve efeitos tão devastadores para a natureza como nos últimos 50 anos.
A população duplicou desde 1970, a economia global cresceu e fazemos 10 vezes mais trocas comerciais. Para sustentar este modo de vida, 100 milhões de hectares de árvores foram cortados, só em florestas tropicais, entre os anos de 1980 e 2000. Quanto aos ecossistemas marítimos, apenas 13% dos existentes em 1700 resistiram até 2000. O solo também tem sofrido, encontrando-se em níveis de degradação inéditos, e 23% sofreu uma redução de produtividade. Por outro lado, as cidades são agora do dobro do tamanho do que eram em 1992.
Esta tendência reflete-se na subsistência das restantes espécies. De acordo com o estudo, 25% da fauna e flora do planeta estão em perigo, ou seja, 1 milhão de animais e plantas poderão estar completamente extintos dentro de décadas. Trata-se de um quarto dos mamíferos, 10% dos insetos e mais de 40% dos anfíbios.
Kate Brauman, professora da universidade de Minnesota e coordenadora do estudo, disse: “Nós documentámos um grande declínio sem precedentes na biodiversidade e natureza, isto é completamente diferente de tudo aquilo que já vimos na História da Humanidade em termos da velocidade do declínio e da escala da ameaça. Quando juntámos todos os dados eu fiquei chocada ao ver o quão extremo é o declínio em termos de espécies e em termos do contributo que a natureza está a providenciar às pessoas”.
O uso intensivo dos recursos naturais é apontado como o principal culpado. Desde 1980 que mais de metade do aumento da produção agrícola foi a custo da devastação de florestas para plantação agrícola e apenas 3% dos oceanos não sofre de exploração intensiva.
O desperdício é também um problema em crescimento. A poluição provocada pelo plástico é agora 10 vezes maior do que em 1980 e todos os anos são despejados 300 a 400 milhões de toneladas de metais pesados entre outras substâncias tóxicas nas águas.
Os autores do estudo aconselham os governantes a afastarem-se do “paradigma limitado de crescimento económico” e adotarem abordagens que se concentrem na qualidade de vida e no efeitos a longo prazo.
No relatório pode ler-se que “só através de uma ‘mudança transformadora’, a natureza pode continuar a ser conservada e recuperada de modo sustentável. Isso significa que é fundamental uma reorganização em termos tecnológicos, económicos e sociais, incluindo a mudança de paradigmas, objetivos e valores”.
Andrew Norton, diretor do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Ambiental apela ao “fim de subsídios destrutivos, incluindo para combustíveis fosseis e para a pesca e agricultura industrial.”
Mas os governos não são os únicos com capacidade para fazer a diferença, Kate Brauman garante que o esforço individual também é importante: “Podemos tornar-nos mais saudáveis ao alimentarmo-nos através de dietas mais saudáveis, com mais vegetais, e podemos também tornar o planeta mais saudável ao cultivar esses alimentos de maneira mais sustentável.”
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