Investigadores do Instituto norte-americano do Cancro Dana Farber descobriram, finalmente, que a talidomida interfere com as proteínas responsáveis pelas expressão um gene essencial ao desenvolvimento dos membros, “desligando-o”.
O medicamento surgiu na Alemanha Ocidental, em 1957, e era receitado em casos tão variados como ansiedade e insónias ou problemas de estômago. A sua popularidade aumentou, no entanto, quando começou a ser usado para o tratamento dos enjoos na gravidez. Com o seu uso generalizado, não tardou até nascerem entre 5 a 7 mil bebés na Alemanha com malformações nas pernas e braços ou com os membros totalmente ausentes. No resto do mundo, nasceram outros 100 mil nas mesmas condições. Do total dos afetados, sobreviveram apenas 40% dos bebés da Alemanha Ocidental e 50% dos que nasceram noutros países. Estima-se que em Portugal tenham sido cerca de 10 as vítimas dos efeitos secundários deste medicamento durante a gestação.
Milhares de mulheres abortaram no final da década de 50 e início da de 60, um efeito também atribuído à talidomida.
Depois de ter praticamente desaparecido do mercado, o medicamento voltou como tratamento contra certos tipos de cancro, mas os graves efeitos secundários observados em meados do século passado têm sido um entrave à sua utilização mais ampla.
Nos últimos anos, os investigadores do instituto Dana Farber tentaram perceber o que a talidomida faz, exatamente, ao material genético e concluíram que adultera as proteínas que controlam a expressão de alguns genes, como o SALL4, determinante no desenvolvimento dos membros durante a gravidez.
A investigação partiu da descoberta de que pessoas que nunca tinha sido expostas à substância mas que tinham malformações muito semelhantes, apresentavam igualmente uma falha nesse gene.