Vamos a factos: as renas, sejam machos ou fêmeas, renovam as suas hastes anualmente; mas enquanto eles as perdem entre o final de novembro e o início de dezembro, depois de acasalarem, as delas só costumam cair por volta de abril e maio, após serem mães.
A razão é simples de entender e tem a ver com utilização das hastes. As dos machos começam a nascer por altura da primavera e pelo outono estão duras como ossos, prontas a afastar a concorrência. Mas quando as fêmeas engravidam, o seu nível de testosterona baixa ao ponto de levar ao enfraquecimento das hastes, que acabam por cair. As das fêmeas servem para se defenderem de potenciais ameaças e guardar os locais de alimentação. Só as perdem depois de parirem (as que não engravidaram perdem-nas um pouco mais cedo).
As nove renas que puxam o trenó do Pai Natal são, por isso, fêmeas e – tcharan! – estão muito provavelmente prenhas. “Parece ser assim”, diz o fisiologista Perry Barboza, que estudou a espécie Rangifer tarandus quando trabalhava no Instituto de Biologia do Ártico, da Universidade do Alasca, em Fairbanks (EUA).
Além da questão das hastes – que aparecem sempre nas representações da pequena manada natalícia –, o investigador faz notar que as renas fêmeas estão mais bem preparadas para trabalhos pesados na altura do Natal do que os machos. No final de dezembro, enquanto eles mantêm apenas 5% da gordura corporal, por terem gasto muita energia durante o período de acasalamento, elas entram no inverno com cerca de 50% de gordura no corpo. São uma espécie de “focas sobre cascos”, compara Perry Barboza. A gordura que têm acumulada na garupa mantém-nas quentinhas mesmo quando as temperaturas descem para mais de 40 graus negativos.
A única hipótese de Rudolfo e as restantes renas do Pai Natal serem machos é ainda não terem tido o primeiro cio, nota por sua vez Peter Flood, professor emérito no Departamento de Ciências Biomédicas Veterinárias, da Universidade de Saskatchewan, em Calgary, no Canadá. A envergadura de uma rena fêmea não é, aliás, muito diferente da envergadura de uma jovem rena macho. Mas cheira-nos a desculpa para continuarmos a acreditar no Pai Natal e em tudo o que o rodeia (o que não é obrigatoriamente mau).