Foi há um mês. O catálogo de mais um leilão de moedas de ouro estava completamente fechado e pronto para ser enviado à gráfica. Até que um homem com ar distinto, na casa dos 70 anos, entrou no escritório da leiloeira Numisma, na avenida da Igreja, em Lisboa. Se fosse num jornal ou revista, ouvir-se-ia a ordem: “Parem as máquinas!”
No caso, o visitante tirou de um dos dois envelopes que levava uma moeda que deixou o CEO da Numisma, Javier Salgado, confessadamente com os “olhos a brilhar”, conta o próprio à VISÃO. Tinha à sua frente uma dobra de 1728, de Lisboa, cunhada no reinado de D. João V (1706-1750), “uma moeda de ouro da mais alta raridade e num estado de conservação fantástico”. É claro que se tornou logo na “estrela” do leilão de moedas de ouro que a Numisma organiza esta quinta-feira, 13, no VIP Grand Lisboa Hotel, indo à praça com um preço-base de 40 mil euros.
E como foi parar às mãos do distinto senhor septuagenário, que vive em Lisboa, tamanha raridade? Simples: um amigo ofereceu-lha há mais de 30 anos, explicou. Assim, por mera e certamente grande amizade, oferece-se a mais rara de todas as moedas de 12 800 reis, valor muito elevado para a época, que foi, aliás, de grande opulência da corte portuguesa.
Mas no segundo envelope o visitante da Numisma trazia outra joia, também oferta do mesmo amigo, há três décadas. Mostrou uma moeda de ouro de 6 400 reis, de 1828, do reinado de D. Pedro I do Brasil (1822-1831), igualmente em “excelente estado de conservação”, assegura Javier Salgado. É a “estrela n.º 2” do leilão de quinta-feira, com licitação a partir dos dez mil euros.
Javier Salgado diz ter notado no vendedor “uma certa pena em alienar” as duas valiosas moedas. Mas a razão para o fazer, essa, ficou no seu foro privado. O CEO da Numisma, porém, afirma-se convicto de que as moedas, após o leilão, hão de permanecer em Portugal. “Neste segmento, os nossos investidores e colecionadores são muito patrióticos.”