O antidepressivo que não se mostrou eficaz no combate à depressão tinha um insólito efeito secundário: algumas mulheres que o tomavam referiam experiências sexuais satisfatórias (mais 0,7 por mês, face ao grupo placebo do ensaio clínico). Um comprimido de flibanserina por dia era a promessa para a falta de libido. Mas o pedido de comercialização foi rejeitado pela agência americana que regula os fármacos (FDA). Por unanimidade, em 2010 e ainda sob a alçada da alemã Boehringer Ingelheim e em 2013, depois de a molécula ter sido comprada e melhorada pela americana Sprout Pharmaceuticals (mas com resultados inconclusivos nos testes).
O que leva agora o comité consultivo da FDA a dar parecer favorável à sua introdução no mercado, por 18 votos a favor e 6 contra? O segredo pode estar na campanha da aliança de defesa da igualdade de género na saúde sexual, estimulada pela Sprout, que congrega organizações feministas. Conclusão: até agosto, o fármaco pode ter luz verde.
Maria do Céu Santo, coordenadora do núcleo de Medicina Sexual da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, encara a notícia com agrado e admite que o fármaco terá vantagens para mulheres que sofrem por ter pouco desejo sexual: “Quando estamos apaixonadas, o desejo vem primeiro; nas relações duradouras, surge em segundo e precisa de excitação para se fazer sentir.” Nesse sentido, a pílula rosa pode ser a luz ao fundo do túnel, por “induzir, quimicamente, um estado de pseudo-paixão, libertando dopamina, associada à recompensa, e noradrenalina, envolvida na excitação”.