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Chefe dos escuteiros sucidou-se na prisão de depois de ser detido por suspeitas de pedofilia infantil na internet e abuso sexual de menores
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“Era um tipo normal.” Quando, há quase duas semanas, a VISÃO começou a investigar o caso do chefe de escuteiros, e responsável por atividades extracurriculares em várias escolas de Lisboa, que abusou sexualmente de dezenas de crianças entre os 4 e os 10 anos, foi essa a frase que mais ouviu.
Três semanas depois de ele se ter suicidado na prisão, onde estava detido preventivamente, os seus amigos e conhecidos ainda não se refizeram do choque. “Toda a gente o adorava”, dizem, incrédulos. “Ninguém podia adivinhar…”
Entre os seus amigos havia muitos pais porque João Martins interagia facilmente com eles. “Era um sedutor”, diz a mãe de uma menina, de oito anos, que adorava os seus ateliês. Os pais confiavam-lhe os filhos sem pensarem duas vezes e gabavam-lhe a criatividade. “Fazia coisas giríssimas com os miúdos, tinha muita imaginação”, recorda a mesma mãe.
As crianças divertiam-se tanto na oficina de expressão plástica Pincel Mágico que João Martins dava há anos na Apia, uma conhecida IPPS da Ajuda, que os pais não hesitavam em inscrevê-las nos campos de férias que ele organizava durante as férias escolares.
E no Agrupamento 80 dos escuteiros de Belém, onde João Martins tinha a seu cargo os Lobitos, meninos e meninas entre os 6 e os 10 anos, os pais nunca estranharam vê-lo participar em acampamentos. O chefe dos escuteiros era “um rapaz simpático”, que tirava fotografias “lindíssimas” aos miúdos. Fotografias que, muitas vezes, ele publicava no Facebook do agrupamento, acompanhadas de mensagens sobre o andamento das atividades.
Nas escolas do Restelo e Carnide onde coordenava as atividades extracurriculares, João Martins só daria nas vistas pelo seu lado empreendedor. “Era muito ambicioso, ia a todas”, conta uma amiga, que prefere não ser identificada. “Não perdia um projeto relacionado com crianças.” Descontraído na maneira de vestir e de ser, não ostentava riqueza, morava num rés-do-chão de uma rua sem história, na Ajuda, e não guiava um carro topo de gama.
Só quando os amigos souberam que, nos ficheiros do seu computador, foram encontradas milhares de imagens pornográficas de crianças explicitamente envolvidas em atos sexuais é que se lembraram de uma imagem de marca: andava sempre de máquina fotográfica pendurada.
João Martins foi detido preventivamente no dia 25 de setembro, no âmbito de uma operação internacional contra a pornografia infantil na internet. Menos de um mês depois, a 20 de outubro, suicidou-se, enforcando-se com um lençol, na sua cela do estabelecimento prisional junto da Polícia Judiciária, em Lisboa. A PJ está a contactar os pais das crianças que aparecem nas imagens. A investigação internacional continua e estas crianças poderão precisar de apoio psicológico.