Ao contrário do que se pensava, os “cocktails” ou “Speedball” de cocaína e heroína, cada vez mais usados na Europa, têm um efeito pior do que o somatório das reacções destas drogas usadas em separado, disse à Lusa a coordenadora da investigação, Catarina Resende de Oliveira.
O estudo foi iniciado há três anos e envolve uma dezena de investigadores, que procuram descobrir de que modo os opiáceos, nomeadamente a heroína, e a cocaína actuam ao nível do cérebro e a toxicidade que provocam nos neurónios.
“Ambas as drogas têm efeitos muito tóxicos, mas o que não se sabia é que a conjugação das duas tem um efeito mais neurotóxico, muito mais prejudicial”, afirmou presidente do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, que considera preocupante a conclusão a que os investigadores chegaram.
Os cientistas apuraram que a morte celular induzida pela cocaína não é muito significativa e a heroína conduz à morte de cerca de dez por cento das células. A combinação das duas drogas induz a morte de cerca de 20 por cento das células.
A docente catedrática da Faculdade de Medicina de Coimbra explica que, na combinação da cocaína com a heroína, formam-se compostos químicos – chamados aductos – que provocam “alterações graves e lesivas do sistema neuronal, levando à morte das células por necrose”.
Na presença dos aductos, a morte celular por necrose “é significativa e atinge cerca de oito por cento das células”.
“O consumo separado desta drogas leva à morte das células cerebrais, mas de uma forma mais lenta, como se fosse uma maçã a mirrar. Com a mistura das duas a morte é por necrose, mais violenta”, referiu.
Os investigadores descobriram que um dos mecanismos envolvidos na morte neurocelular é o “stress oxidativo” gerado pelo consumo das drogas.
O estudo foi testado em ratos, que agora serão submetidos à “administração crónica” dos cocktails de droga, de forma a aproximar o consumo ao dos toxicodependentes.
“Queremos apurar o efeito do consumo crónico ao nível dos neurotransmissores cerebrais e em que tecidos a droga se acumula mais”, disse.
Um dos objectivos do estudo é, numa fase posterior, encontrar, a partir dos mecanismos de morte das células cerebrais, “alvos protectores, para evitar a sua morte”.
Co-financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, o estudo é liderado pelo Centro de Neurociências da Universidade de Coimbra e envolve investigadores das Faculdades de Medicina e de Ciências e Tecnologia de Coimbra, bem como das Universidades do Porto e de Aveiro.