1) Entrada
João Paulo Cardoso, 53 anos, e Bruno Antunes, 32, vestem-se a rigor, antes de abordar o local do crime. Estes polícias-cientistas protegem o cabelo, a boca, o corpo para não contaminarem o cenário. A entrada é feita de joelhos, com o apoio de uma luz branca que varre chão e paredes. Nada escapa à lupa luminosa. À medida que progridem, os técnicos colocam setas amarelas no chão – uma via de circulação -, e marcando com placas todos os vestígios que surgem.
2) Copos
Qualquer objecto que possa conter impressões digitais ou vestígios de ADN é de imediato assinalado. Neste cenário, que serve de sala de aula aos futuros polícias-cientistas da PJ, estavam dois copos com licor em cima de uma mesa. Antes de os colocarem dentro de um saco, os investigadores passam uma zaragatoa no local onde os lábios assentam, na expectativa de recolher saliva. Os polícias guardam, também, um conjunto de pontas de cigarro, que estavam num cinzeiro.
3) Pegadas
“As marcas de um sapato podem ajudar, por exemplo, a relacionar crimes”, explica Joaquim Rodrigues, 42 anos, que também integra a equipa da PJ. A luz branca revela uma marca de sapato num banco, junto de um armário. Os técnicos colocam papel de alumínio por cima do vestígio. Com o apoio de um aparelho, aplicam duas cargas electrostáticas no papel, que, assim, absorve a marca no banco. “Temos uma base de dados que nos permite comparar as solas de diversos modelos”, refere Joaquim Rodrigues. “Através dessa informação, é possível associar pessoas a locais de crime.”
4) Pó branco
Numa das prateleiras do armário da sala é visível uma substância suspeita, branca. O teste de despistagem faz-se no local. Um reagente químico colorido determina que se está perante uma anfetamina e, por isso, todo o pó branco é guardado. “Testamos, no terreno, as mais diversas substâncias”, explica Fernando Viegas. Nenhuma droga escapa.
5) Gotas
Ao longo do corredor e numa parte do quarto são visíveis, a olho nu, várias gotas avermelhadas. Os polícias utilizam um aparelho, semelhante a um teste de gravidez, para fazer uma primeira despistagem, que se revela positiva. Também há várias marcas de sangue num armário. Todos estes pontos são devidamente marcados e introduzidos num programa de computador, que fornece o ponto exacto da primeira agressão e interpreta o movimento da vítima, através do formato das gotas. A presença de sangue pode ser detectada pelo luminol – um reagente químico que fica azul quando misturado com sangue – e pelo olfacto de cães.
6) Balas
Junto da cama está uma pistola que, de acordo com a posição do respectivo mecanismo, dá a entender que foi disparada. A suspeita confirma-se quando João Paulo Cardoso detecta uma cápsula caída no chão e uma bala alojada na parede. Para aferir o local exacto do disparo, os polícias-cientistas apontam um laser ao projéctil preso ao tijolo, e assim percebem a altura a que estava a arma e a direcção do tiro. “Só depois, em laboratório, é que se consegue confirmar se a bala foi ou não disparada por esta arma”, explica Joaquim Rodrigues, especialista em balística.
7) Corpo
Ao lado da cama está uma mulher (um boneco, obviamente), com uma ferida na cabeça e meio despida. Para descobrirem se é a autora do disparo, os técnicos passam uma espécie de ventosa pelas mãos da vítima, a fim de verificarem se ali ficaram vestígios de pólvora. O cadáver também fornece outros elementos importantes, como cabelos de terceiros, espirros de sangue, ou até pólenes, se estiver ao pé de plantas. A Panilogia – técnica para desvendar crimes a partir de amostras do ambiente – pode revelar-se fundamental. “Fazemos essa recolha quando se justifica”, diz Fernando Viegas, 40 anos. “Pode ajudar a perceber se alguém esteve num local.”
8) Sémen
Só com a ajuda de um potente foco de luz azul, cujo comprimento de onda obriga os investigadores a proteger os olhos, é que foi possível detectar as manchas de sémen nos lençóis e até alguns pêlos púbicos. Cada um dos técnicos usa óculos com características diferentes – enquanto um detecta manchas, o outro descobre fibras e cabelos. Estes elementos dão a entender a existência ou não de actividade sexual antes do homicídio.