Para quem já se tinha assumido como oposição a uma lista próxima de João Cotrim de Figueiredo para o Conselho Nacional, Nuno Simões de Melo só poderia ter recebido com surpresa o anúncio da saída antecipada do líder do partido. “Tem todo o direito de se demitir quando entender”, admite o deputado municipal de Mafra e protagonista da candidatura da Lista B ao Conselho Nacional, que não tem, para já, uma lista para Comissão Executiva, que elege o líder do partido. No entanto, a forma como Cotrim anunciou a sua decisão oferece duvidas a Simões de Melo.
“Considero pouco liberal um líder que se demite e designa o seu sucessor”, disse o deputado municipal, em entrevista ao Irrevogável, referindo-se ao facto de Cotrim de Figueiredo ter partilhado 15 dias antes com o deputado e candidato Rui Rocha a sua intenção, dando-lhe tempo para se preparar e procurar apoios imediatos. “Passou a sensação de que estava a ser arranjada uma solução interna para substituir Cotrim”, acrescenta.
Como não se identificou com o gesto, Nuno Simões de Melo, 58 anos, apressou-se a sublinhar a importância da candidatura da deputada Carla Castro, 24 horas depois. Por quem confessa ter “uma grande admiração”, reconhecendo-lhe “capacidade de trabalho” e “empatia”.
Mesmo assim, o cabeça de lista ao Conselho Nacional insiste não querer declarar-lhe, pelo menos para já, o seu apoio formal. Opta por esperar pelo agendamento da Convenção Nacional (prevista para dezembro, mas que pode vir a ser adiada para janeiro, como tem pedido Rui Rocha) e por conhecer a moção estratégica da candidata, que gostaria que incluísse algumas das ideias da sua lista ao Conselho Nacional.
E, caso isto não aconteça, Nuno Simões de Melo não descarta a possibilidade de alguém da sua lista avançar com uma candidatura também à Comissão Executiva do partido. “Somos liberais e a liberdade individual está acima de qualquer princípio. Logo, qualquer um de nós a título individual pode avançar”, nota, metendo, contundo, um ponto final nas especulações sobre uma eventual candidatura sua: “Posso garantir que não serei candidato à comissão executiva. Só serei cabeça de lista de uma candidatura ao Conselho Nacional”.
Quanto às prioridades da sua lista, o autarca liberal assume que estas passam por descentralizar a mensagem do partido, levando-a a outras geografias; pela criação de uma estrutura de coordenação dos núcleos locais que possa fazer a ponte entre os militantes e a Comissão Executiva, com o intuito de facilitar a comunicação entre as bases e a direção da IL. E por investir na separação de poderes nos órgãos internos: “Na Iniciativa Liberal, não existe de facto separação de poderes. A Comissão Executiva é por inerência parte do Conselho Nacional. Dos 75 conselheiros nacionais, 25 pertencem ao poder executivo.”
Ainda sobre as eleições internas, Nuno Simões de Melo sublinha a importância de existirem dois candidatos para enriquecer o debate, rejeitando que isto passe uma ideia de “divisão interna para fora”.
“Quando há três liberais juntos há quatro ideias diferentes – a de cada um e outra, que é a sumula da dos três. Por isso, não há divisões no partido; há é maneiras diferentes de pensar, com uma matriz comum. E é nesse debate que se cria mais riqueza”.
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