Embora não seja inédito, Duarte Costa quebra uma tradição da política portuguesa, ao apresentar-se num modelo de liderança partidária bicéfala – ao lado de Ana Carvalho (uma jovem de apenas 26 anos). O Volt Portugal, fundado em junho de 2020, ainda só participou em dois atos eleitorais (nas últimas legislativas e autárquicas), obtendo resultados modestos, mas, com a liderança partidária mais jovem do País, tenta agora encontrar o seu espaço, trilhando um caminho descrito como “progressista” e “pragmático”.
O objetivo, esse, está definido: “Entrar na Assembleia da República” daqui a quatro anos. Assumindo que a tarefa “não é fácil”, Duarte Costa acredita que “não só há espaço [para o partido], como este espaço nunca tinha sido ocupado” em Portugal. Criado como resposta ao Brexit, o co-líder descreve o projeto político como uma “arma” para “combater o populismo, o nacionalismo e o descrédito na União Europeia”.
“O Volt faz muita falta, pois não temos nenhum partido que veja Portugal como co-autor da Europa e não apenas como um País que está na Europa, apenas, para aproveitar os apoios financeiros provenientes de Bruxelas”, diz. Desafiado a descrever o Volt Portugal em três palavras, o co-líder do Volt Portugal afirma que o partido se encaixa “num espectro político liberal, social e ecologista”. No hemiciclo, garante, “sentar-nos-íamos nos lugares mais longe dos extremos, ao centro”. Ou seja, “entre o PS e o PSD”, sublinha.
Troca “ruidosa” na liderança
Tiago Matos Gomes foi o rosto do Volt Portugal, nos primeiros dois anos de existência do partido, mas, no passado mês de maio, acabaria por abandonar o projeto com “estrondo”, acusando o Volt Portugal de estar a “derivar à esquerda”, e a afastar-se dos princípios e valores que levaram à sua fundação.
Duarte Costa considera que, neste momento, essa primeira “crise” interna já está ultrapassada. Deixa uma palavra “de gratidão” ao fundador do partido em Portugal, mas admite que “a saída [de Tiago Matos Gomes] não estava planeada”.
Considera, porém, que as críticas do antigo líder “não fazem sentido”. “Havia uma divergência do Tiago [Matos Gomes] com a agenda do partido, quanto à defesa dos direitos humanos, nomeadamente em relação à defesa da comunidade LGBTQIA+ e à igualdade de género. A meu ver, e esta é uma visão partilhada por todos no interior do partido, é que estes são valores centrais para uma sociedade progressista. “Para nós são direitos fundamentais que devem ser defendidos por todos os partidos e sem estratégias eleitoralistas (…) o Volt Portugal é um partido do século XXI (…) e, por isso, a agenda dos direitos humanos é uma agenda incontornável (…) para garantir que todas as pessoas são livres de ser quem são e de amarem quem amam”, destaca.
“Linhas vermelhas”: Chega e PCP
Duarte Costa (e o Volt Portugal) já definiu as suas “linhas vermelhas”: no primeiro outdoor do partido, revelado numa zona nobre de Lisboa, figuram André Ventura e Jerónimo de Sousa, lado a lado com o presidente russo Vladimir Putin. O cartaz, diz o co-líder, “define aquilo que esteve na génese do partido na Europa, em 2017, de querermos combater o espírito nacionalista, populista e o ceticismo no projeto europeu, e de reafirmar que ainda há um projeto democrático capaz de dar resposta às necessidades dos cidadãos portugueses e europeus”.
“No outdoor colocámos os líderes dos partidos que, em Portugal, têm uma liguagem em que não nos reveemos, de acordo com os nossos valores e princípios. Foi também uma forma de mostrar aos portugueses que têm no Volt Portugal uma solução para o futuro”, afirma.
Resultados eleitorais modestos
Nas eleições legislativas de janeiro, as primeiras em que participou, o Volt Portugal ficou aquém das metas definidas pelo partido, mas deu nas vistas depois de o recurso de Duarte Costa (e de outros jovens militantes do Volt Portugal), apresentado ao Tribunal Constitucional, ter resultado na repetição das eleições no círculo da Europa, após a anulação de milhares de votos dos emigrantes.
Na (nova) ida às urnas, porém, os eleitores parecem não ter reconhecido todo esse esforço – dando ao partido um resultado pouco expressivo. “As pessoas não estavam informadas que as eleições se iam repetir (…) e muitas das pessoas estavam também chateadas pelas eleições se terem repetido”, na sequência de um processo onde (quase) tudo correu mal. Ainda assim, Duarte Costa faz um balanço positivo: “Acho que o Volt Portugal fez o melhor possivel, tendo em conta os recursos que tinha”.
Agora, a energia está focada nas próximas eleições: as Europeias de 2024.
Prioridade às alterações climáticas
Duarte Costa é (profissionalmente) especialista em alterações climáticas o que, segundo o próprio, lhe “poderá dar algumas vantagens” na discussão de um tema que, certamente, continuará a marcar a agenda mediática nos próximos anos (ou mesmo décadas). Foi este, aliás, o primeiro passo para a política: “Entrei para o Volt Portugal por sentir que quem toma decisões por nós, sobre esta matéria, estava a lidar com este assunto da mesma maneira com que lidava com outros, dizendo aquilo que as pessoas querem ouvir, sem tomar as medidas que são, de facto, necessárias”, afirma,
“Acho que, hoje, precisamos de decisores políticos que tenham interesse pessoal em resolver a crise climática (…) de mais jovens na política e dessa solidez para resolver os problemas. Foi isso que me motivou a sair do ‘sofá’ e a defender que as alterações climáticas já não são, apenas, um problema do futuro, mas sim um problema do presente”, conclui.