Na aplicação de mapas do Google, a Ponte 25 de Abril surge (também) como “Ponte Salazar”. A modificação foi feita a pedido – o Google permite aos utilizadores proporem alterações, enviando a sugestão de edição através da aplicação ou do navegador de internet. A plataforma analisa a sugestão e, se for aceite, faz a alteração sugerida.
Parece ter sido precisamente isso que aconteceu, e por alguém com ligações à extrema-direita. O utilizador do X (antigo Twitter) @SenaPt_ publicou, no dia 23 de fevereiro, uma imagem com a resposta positiva do Google. “Obrigado pela contribuição. A edição feita a Ponte Salazar foi aceite.” Mais abaixo, a “Ponte Salazar” surge com o “antigo” “endereço” riscado – “Pte 25 de Abril – e a nova designação. Na app, contudo, surgem igualmente as designações A2, Autoestrada do Sul, 25 de Abril, além de Salazar.
A data da proposta de edição é 21 de fevereiro, dia seguinte ao debate dos partidos sem representação parlamentar, na RTP. Nesse debate, o candidato do Ergue-te, José Pinto Coelho, de extrema-direita, chamou à Ponte 25 de Abril “Ponte Salazar”.
A conta @SenaPt_ tem presença em várias redes sociais, além do X (Facebook, TikTok, YouTube, Telegram, Instagram, Threads, Odyssey e Rumble), plataformas onde partilha todo o tipo de propaganda de extrema-direita e direita radical, sobretudo pró-Chega, e anti-partidos de esquerda.
No Facebook, a conta Sena Pt (onde, tal como no X, tem uma foto de capa com o termo “Sena News”) tem como amigos várias figuras de topo do Chega, incluindo os deputados Pedro Frazão, Filipe Melo e Rita Matias, além do assistente pessoal de André Ventura, Luc Mombito, entre outros.
Entretanto, a Google já emendou o erro, segundo uma nota que enviou esta tarde à VISÃO: “Estamos conscientes desta situação e já atualizámos o nome da ponte. Os nossos sistemas automáticos e os operadores qualificados trabalham ininterruptamente para monitorizar o Maps na procura de comportamentos suspeitos, incluindo as edições incorretas em locais. Também facilitamos o processo das pessoas para denunciarem locais falsos e conteúdo impróprio, o que nos ajuda a manter uma informação autêntica e confiável no Maps.”
A substituição do nome da ponte sobre o Tejo, que aconteceu logo depois da Revolução dos Cravos, nunca foi bem aceite por grupos ultraconservadores e de extrema-direita, que preferem o nome original, alegando que foi Salazar que mandou erguer a infraestrutura. Mas Salazar começou por se opor à sua construção, e teve de ser convencido pelo seu ministro das Obras Públicas, Arantes e Oliveira – e só deu luz verde ao porjeto depois de ficar garantido que a maior parte do investimento viria de bancos estrangeiros. Chamar à ponte “Salazar” contou, aliás, com a sua oposição inicial. Foi novamente Arantes e Oliveira, com a ajuda do então Presidente da República Américo Thomaz, que, a custo, convenceram o ditador a aceitar que a ponte fosse batizada com o seu nome. A placa a anunciar “Ponte Salazar” surgiu logo no dia da inauguração, a 6 de agosto de 1966. A população em geral, no entanto, chamava-lhe Ponte Sobre o Tejo.
Curiosamente, a primeira ponte da região de Lisboa sobre o rio, a “Marechal Carmona”, em Vila Franca de Xira, continua a ter o nome de uma figura associada à Ditadura Militar e ao Estado Novo: Óscar Carmona.
(Artigo atualizado às 16h20, com a nota enviada pela Google.)