Quando António Costa sugeriu o nome de Mário Centeno para liderar o Governo, o ainda primeiro-ministro sabia que estava a “queimá-lo”, pelo menos “para já”, no PS. Esta tese conspirativa, que corre em vários setores do partido, confirma o mal-estar dos socialistas, ou de várias das correntes em conflito no partido, quando Costa alvitrou essa solução “salomónica”. Naquela manhã de 7 de novembro, enquanto se realizavam buscas nos gabinetes de São Bento, e antes de saber se Costa se demitiria ou se o País iria para eleições, só um nome forte era apontado para, eventualmente, o substituir: o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, 52 anos (Fernando Medina não estaria minimamente interessado em chegar lá, sem eleições). Aliás, o nome do ex-autarca de Baião, que Costa tinha “puxado para cima”, anos antes, quando fizera dele secretário-geral adjunto, tinha-se tornado mais consensual do que o próprio Fernando Medina – o homem mais influente no Executivo de Costa – porque, alegadamente, não tinha anticorpos no partido e teria a capacidade de não antagonizar demasiado a aguerrida oposição à direita, com um Governo tão fragilizado por um caso judicial. Isso foi levado a sério pelo próprio, que decidiu aproveitar o elã. Assim, quando Marcelo Rebelo de Sousa convocou eleições para 10 de março, ele já tinha um conjunto de “barões” a impulsionarem a sua candidatura.
O problema, para José Luís Carneiro, é que por muito que se tivesse antecipado – fez o anúncio 48 horas antes do rival –, a candidatura de Pedro Nuno Santos, 46 anos, antes de ser, já o era. A forma como o ex-ministro das Infraestruturas preparou o seu movimento teve o seu momento-chave quando captou o apoio explícito de Francisco Assis. Isto, previsivelmente, teve, depois, uma dinâmica replicadora de apoios na ala direita, como o de Álvaro Beleza – e estes dois nomes, não por acaso, são os mais mediáticos e os que têm melhor imprensa –, o que retirou impacto a qualquer candidatura rival.