Desde as primeiras manifestações e protestos deste ano que o novo Sindicato de Todos os Professores (STOP), utiliza um camião TIR com palco móvel e outras estruturas fixas com tela, luz e som pertencentes a uma empresa de Juliana Escaleira e Ricardo Pinheiro, militantes e candidatos do Chega à assembleia municipal de Arruda dos Vinhos em 2021 (ele enquanto efetivo, ela suplente).
O principal veículo dá nas vistas nas transmissões televisivas e é nele que viajam e discursam dirigentes sindicais, incluindo o presidente André Pestana. No próximo sábado, 25, a cena repetir-se-á, embora com um veículo mais pequeno, durante nova manifestação em Lisboa, com percurso entre o Palácio de Justiça e a residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento. A liderar as operações no terreno, como sempre, estará Ricardo Pinheiro.
Ainda recentemente, André Pestana, líder sindical e dirigente do Movimento de Ação Socialista (MAS), condenou o “oportunismo e aproveitamento vergonhoso” que André Ventura terá feito da sigla STOP durante um debate no Parlamento, reivindicando, uma vez mais, o caráter “apartidário” da luta dos professores. Para Ricardo Pinheiro, que se identifica como sócio-gerente da empresa dirigida pela mulher, Juliana, a relação é meramente empresarial e não passa disso. “Para ser franco, já houve duas situações em que a nossa ligação ao Chega causou entraves ao negócio. Por vezes, as pessoas de má índole intelectual não sabem distinguir as opções políticas das profissionais. Mas não foi o caso do STOP. Pelo contrário: o sindicato nunca levantou problemas”, assume, à VISÃO.
O cliente Chega
“Profissionalismo, estruturas e meios técnicos de alta qualidade” é o que o casal Juliana e Ricardo garante aos clientes, entre os quais se encontram câmaras municipais de diferentes cores políticas e a Associação das Coletividades do Concelho de Lisboa. Liderada por Pedro Franco, candidato autárquico da CDU em 2013, a ACCL organiza há vários anos a Corrida da Liberdade, integrada nas comemorações do 25 de Abril. Os palcos da empresa também já foram usados na campanha autárquica do independente Isaltino Morais, em Oeiras e, em 2021, na manifestação contra o aumento dos combustíveis, promovida pelo Movimento Cumprir Portugal. Os preços de tabela variam entre os 500 € e os 2000 € por utilização. “Atendemos às necessidades, sem quaisquer preconceitos de ordem política. Mas a verdade é que fazíamos 30 ou 40 espetáculos culturais e musicais por ano e, desde que comecei a dar a cara pelo Chega, são cinco ou seis. É uma coisa mesquinha, mas já sei que é esse o preço a pagar pelas minhas opções”, refere Ricardo Pinheiro, também cantor com o nome artístico Ricky.
Um dos principais clientes de Juliana e Ricardo é, de facto, o Chega. Praticamente desde a fundação. As campanhas eleitorais do partido, e até a de André Ventura a Belém, tiveram o dedo da empresa do casal. Outros eventos pelo País também. O último foi a V Convenção, em Santarém, em finais de janeiro. “Falei com a direção e, apesar de ter sido eleito delegado, achei que não devia ser mais do que militante, até para não misturar as coisas. Tive, tal, como outras empresas, de me sujeitar à apresentação de um orçamento para me candidatar à montagem das estruturas de imagem, luz e som em Santarém, mas a verdade é que o partido já me conhece e acabei por ser o escolhido”, explica à VISÃO.
De acordo com as contas das últimas legislativas enviadas pelo Chega à Entidade das Contas e Financiamentos Políticos do Tribunal Constitucional, a empresa de Juliana Escaleira e do marido recebeu mais de 53 mil euros do partido relativos a apoio multimédia nas arruadas, comícios e jantares, de norte a sul do País – e também ao evento do dia das eleições num hotel de Lisboa – ações essas que envolveram vários meios, entre eles o camião TIR com tela e som, e também palcos fixos. “Não nos metam em políticas. Avaliem-nos pela qualidade e profissionalismo”, pede Ricardo Pinheiro. Foi isso, crê, que esteve na base da decisão do STOP em contratar a sua empresa e da mulher. Infelizmente, e apesar de contactados por telefone e por e-mail, os dirigentes do novo sindicato não responderam aos pedidos de esclarecimento da VISÃO.