1 – Maioria absoluta por um canudo
Jerónimo de Sousa passou a campanha a pedir ao eleitorado que não desse a maioria absoluta ao PS, para que este não ficasse “com as mãos livres”. Ora, os eleitores disseram, nas urnas, que não querem o Bloco ou o PCP com as mãos livres para fazerem oposição: votaram, numa nova geringonça. E António Costa, ao fazer o que fez em 2015, retirou ao PS a possibilidade de conseguir maiorias absolutas, já de si, mesmo quando o voto útil contava, bastante difíceis de conseguir.
2 – Quem roubou a maioria?
Para além do que fica dito atrás: Catarina Martins afirmava que só um voto no BE podia impedir a maioria do PS. Mas o que parece ter acontecido é que foi o PSD a impedi-la: ao reduzir-se a diferença entre o 1.º e o 2.º classificado, o PS precisaria de maior expressão para conseguir a maioria. Com o PSD na casa dos 20%, bastariam 38% aos socialistas. Mas com Rui Rio a levar o seu partido a 26 ou 28%, o PS já precisaria de 43 a 45 por cento… A confirmar-se, isso bastará para que Rui Rio se mantenha no lugar.
3 – O A hecatombe do CDS
Com a saída de cena de Passos Coelho, Assunção Cristas passou a ficar sozinha como rosto da governação da troika. O desempenho de Rui Rio, mesmo com uma conjuntura favorável à esquerda e uma guerrilha interna no seu próprio partido, parece provar que, se o PSD tivesse sido liderado por Passos ou algum dos seus discípulos, sofreria de uma punição que, assim, se concentrou no mpara-raios da ex-ministra da Agricultura.
4 – O fenómeno PAN
O PAN é um partido com uma mensagem fofinha, pelo menos, à superfície. É o partido apolítico, o que agrada a um eleitorado jovem, mal informado, alheado, não comprometido ideológica ou partidariamente e que não quer saber da política para nada – mas com forte consciência ambiental. Mas os bons resultados exigem uma camada de consistência que o PAN ainda não tem. Veremos a evolução futura.
5 – Porque elegem os pequenos – se elegerem
A Iniciativa liberal pode ser uma surpresa. Eles conseguiram sucesso junto de um eleitorado jovem urbano um tanto ou quanto yuppie, mas também podem ter entrado, paradoxalmente, na camada mais jovem que só conheceu o mundo da precariedade e que já integrou o liberalismo e a falta de segurança nos apoios sociais como um dado adquirido. Mais, se a IL ou outros elegerem deputados, significa que o voto útil também não funcionou à direita. Também ficam a devê-lo, ao PAN, que abriu caminho e provou que o sucesso dos pequenos é possível. E ao PS: não tendo o PSD hipótese nas sondagens, partidos à direita como a IL, o Aliança ou o Chega podem ter beneficiado. E o Livre também beneficia do facto de o voto útil à esquerda já não ser necessário para garantir a estabilidade.