Portugal não é a Grécia. Portugal não se pode comparar com a Grécia. Portugal não vai chegar ao estado de calamidade financeira em que Atenas mergulhou há uns anos. Durante os últimos anos ouvimos repetidamente esta ladainha. No período do ajustamento era preciso afastar o fantasma de novos resgates. Afastar o medo de que Portugal entrasse numa situação de incumprimento como os gregos.Evitar toda e qualquer colagem, por pequena que fosse, à Grécia, era ponto de honra.
Mas esse tempo parece ter passado. E hoje, à mesma mesa, António Costa e Alexis Tsipras estiveram lado a lado numa reunião inédita. Um encontro entre aqueles que tantas vezes têm sido apontados como os países despesistas. Um novo bloco estratégico dos países do Sul da UE, que quer fazer ouvir a sua voz em relação a um outro bloco dominado pelo Norte, com enfoque na Alemanha, Finlândia e Holanda.
Objectivo? Conseguir uma posição de força e conjunta deste grupo antes da Cimeira da União Europeia, marcada para 16 de setembro em Bratislava e que vai debater as consequências do Brexit, os refugiados e o terrorismo. O Reino Unido não participa.
António Costa marcou presença para defender os interesses de Portugal e juntar a sua voz a Tsipras contra as políticas de austeridade que foram impostas nos últimos anos aos dois países.
E aproveitou para deixar um recado para Bratislava: é preciso que os parceiros europeus encontrem soluções e não ignorem “os sinais inequívocos de insatisfação” que foram revelados com o Brexit e o crescimento latente da extrema-direita em vários países.
“É prioritário que saibamos sair de Bratislava com respostas concretas ao maior factor de angústia para os cidadãos, que tem a ver com as perspectivas de crescimento económico na Europa, de criação de emprego, em particular para os jovens, e perspectivas de termos futuro numa comunidade partilhada”, vincou o chefe do Governo.
E se dúvidas havia de que António Costa está empenhado na força de um novo bloco que partilhe com Portugal os mesmos problemas e aspirações para a Europa, o primeiro-ministro assumiu-o: “Não temos de ter vergonha de ser do sul. Temos de saber assumir na UE uma posição que defenda também a perspetiva de todos estes países. É a melhor forma que temos para que a Europa no seu conjunto esteja melhor posicionada no mundo”, disse o primeiro-ministro português em Atenas.
Para cimentar esta posição, Portugal será o próximo país a receber a Cimeira dos Países do Sul da UE.
E como correu este primeiro encontro inédito? Segundo o governante português os líderes representados conseguiram entender-se para lutar pelo reforço do investimento no conjunto da UE, com Costa a sublinhar que “as condições para reforçar o investimento têm de se adaptar às condições específicas de cada um dos países”, até porque alguns “têm largos excedentes e tinham aliás o dever de investir mais” mas outros têm algumas limitações nesse sentido.
Na declaração conjunta assinada por todos os países participantes na cimeira, destaca-se o compromisso com o projecto europeu e a certeza de que “juntos somos mais fortes”. A segurança externa e interna, o controlo das fronteiras europeias, a cooperação com os países africanos e a ideia de que é preciso mais crescimento e investimento são algumas das ideias centrais que estes países do sul levam à cimeira de Bratislava.