Aquilo que podia ter sido um caso encerrado da morte acidental de um turista na zona de Sagres poderá revelar-se uma investigação bicuda e incluir pistas quanto ao paradeiro da maior fatia do resgate máximo que se pagou até hoje na Alemanha. A edição impressa da VISÃO desta quinta-feira, 19, dá conta de pormenores da história com contornos de mistério.
Com uma grande quantidade de álcool no sangue, Wolfgang Koszics, então com 72 anos, ter-se-á despenhado, a 10 de fevereiro de 2014, de uma falésia da Praia do Beliche. O corpo seria encontrado, no dia seguinte, por uma transeunte na Praia do Tonel, situada a cerca de três quilómetros de distância, para onde o corpo terá sido arrastado pela maré.
De acordo com fontes da investigação ouvidas pela VISÃO, Koszics caiu de uma altura significativa, tendo-se na autópsia apurado que a morte ocorreu devido às lesões provocadas pela queda.
O caso seria de menor importância tanto para as autoridades portuguesas como alemãs, não fosse Koszics um gangster de alto calibre, conhecido no submundo germânico como “Faruk Gordo”. Este homem corpulento foi um dos mentores e executores do mais mediático raptoda história criminal alemã e que na segunda metade da década de 90 do século passado apaixonou a opinião pública alemã.
Juntamente com três comparsas, Koszics raptou em março de 1996 o multimilionário Jan Philipp Reemtsma, herdeiro de um portento tabaqueiro. Koszics seria detido dois meses depois em Espanha. Extraditado e julgado no ano seguinte em Hamburgo foi condenado e cumpriu a 10 anos e seis meses de prisão.
Seria também o guardião de um segredo. É que rapto de Reemtsma foi histórico também pelo montante do resgaste envolvido: 15 milhões de marcos alemães e 12 milhões de francos suíços – contas feitas a câmbios atuais, qualquer coisa como 19 milhões de euros. Desse montante, a polícia alemã só conseguiu deitar mão a uma pequena fração equivalente a 665 mil euros. O cabecilha do gangue de raptores, Thomas Drach, terá gasto 2,5 milhões na fuga que o levou ao Uruguay e à Argentina, onde seria detido em 1998. Presumivelmente Koszics sabia onde andam os restantes 15,9 milhões.
A sua morte está, por isso, envolta em mistério. As pistas apontam, para já, para uma morte acidental ou suicídio. Fonte da investigação portuguesa sublinha que, até agora, não foram encontrados indícios do envolvimento de terceiros na morte do alemão.
Mas o passado dele e o mediatismo ainda latente do caso Reemtsma, suscitam outras interrogações que a procuradoria de Hamburgo gostaria de ver respondidas.
Em resposta a um pedido de esclarecimento feito pela VISÃO, um porta-voz daquela entidade recusou-se a alimentar especulações. Mas admite que a causa da morte deverá ser esclarecida no âmbito da investigação. E confirma que a intenção dos alemães é enviar a Portugal dois investigadores, um polícia criminal e o médico legista Klaus Püschel, diretor do Instituto de Medicina Legal de Hamburgo, tido nos meios forenses germânicos como uma sumidade.
Mas os dois investigadores só deverão começar a acompanhar a investigação em Portugal depois de haver uma resposta formal das autoridades portuguesas à carta rogatória (pedido de cooperação judiciária) que os alemães enviaram, em novembro de 2014, ao Ministério Público em Lagos e que ainda estão a aguardar.
O gangster alemão planeou a sua viagem a Portugal com pelo menos um mês de antecedência, aterrando a 6 de fevereiro em Faro. Aí alugou um carro, instalando-se no mesmo dia num apartamento de uma unidade hoteleira de Sagres. Durante os quatro dias em que permaneceu naquela vila, foi visto sempre sozinho.
No dia 10 de fevereiro, fez o check out do hotel, meteu-se no carro que parou, junto a uma falésia da Praia do Beliche, arrumando a chave e os documentos no porta-luvas.
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