No dia 25, os cidadãos europeus vão escolher mais do que os seus representantes no Parlamento Europeu: desta vez, o seu voto vai decidir quem sucederá a Durão Barroso na presidência da Comissão Europeia. De facto, o PE passa a eleger, entre os seus pares, o futuro detentor do cargo. E a escolha deverá recair sobre uma das duas figuras dos partidos dominantes: ou o alemão Martin Schultz, 58 anos, presidente do Parlamento Europeu, social-democrata do SPD, pertencente ao Partido Socialista Europeu (PSE), grupo de que faz parte o PS, ou o luxemburguês Jean-Claude Juncker, 59 anos, do Partido Social Cristão do Luxemburgo, indicado pelo Partido Popular Europeu (PPE), de que fazem parte PSD e CDS.
Como curiosidade, refira-se que o PSD, nos primeiros tempos da sua fundação (ainda se chamava PPD e era liderado por Sá Carneiro), chegou a pedir a adesão à Internacional Socialista (IS), de que faziam parte os partidos da área da social-democracia e do socialismo democrático. E que foi Mário Soares, então líder do PS e figura de peso da IS, que convenceu os seus pares a recusarem a admissão do PPD por, alegadamente, ser um partido “conservador e liberal”. Soares temia a concorrência interna e o protagonismo internacional dos “laranjinhas”, embora acertando, em parte, na caracterização do PPD, que viria a entrar no bloco conservador.
Mas é desses tempos que provém o nome de “Partido Social Democrata”.
Hoje, o Parlamento Europeu não tem apenas a capacidade de influência limitada do passado. Os seus relatórios e as suas votações em muito contribuem para a definição das políticas europeias, et pour cause, nacionais. Dos dois principais candidatos à presidência da Comissão, aqui referidos, curiosamente, o conservador Juncker pede meças ao socialista, em matéria de compreensão dos problemas dos países do Sul, pela sua intervenção em oito anos de presidência do Eurogrupo. Também Martin Scultz, apoiado pelo PS, tem tido um discurso muito diferente do do Governo conservador alemão. Mas ele faz parte de um partido agora coligado com a CDU de Angela Merkel e as políticas europeias dos alemães não deram mostras de mudança: o SPD parece concordar com a manutenção de um euro forte, inimigo da inflação, com a austeridade, em ordem a garantir disciplina orçamental, e com a não mutualização da dívida dos Estados-membros.
É difícil, assim, para portugueses e gregos, para dar dois exemplos, distinguirem entre quem será “mais amigo”.
O que os separa?
Pouco separa os dois maiores partidos, em matérias europeias. de uma certa forma, sempre foi assim. Se o PS propõe “uma política industrial europeia ambiciosa” e “relançar a economia, através de uma política de reindustrialização inteligente criada com a inclusão de mais investimento nos orçamentos nacionais”, a Aliança Poertugal (PSD/ CDS) defende “o fomento industrial” e a “indíustria transformadora” na Europa. E onde a coligação jura pugnar por uma agenda de fomento do emprego”, o PS quer “colocar o combate ao desemprego no centro da agenda “. E a única voz dissonante, entre os partidos já representados no PE, relativamente à permanência de Portugal na moeda única, surge do cabeça de lista da CDU, João Ferreira: “A vida deu-nos razão quanto às consequências da adesão à moeda única: mais dependência, mais dívida, mais desemprego, menos poder de compra”. Nisto, a esquerda portuguesa continua a não estar de acordo, com o BE e o Bloco a defenderem o euro.
O que podem fazer os nossos
Portugal elege 21 deputados, saídos de 16 candidaturas. Nestas páginas, mediante um pequeno inquérito aos cabeças de lista das forças já representadas no PE e a quatro outros, ditos marginais, mas com capacidade para agitar as águas da campanha, ficamos a saber o que, de essencial, cada um se propõe defender, em Bruxelas e em Estrasburgo, se for eleito. Com pouca capacidade numérica para influenciar as decisões, os deputados portugueses terão de convencer as respetivas famílias políticas para poderem impor alguma ideia. Nestas páginas, “obrigamos ” os candidatos a falar de Europa, e não de política interna. Ora, pelo andar da carruagem da campanha eleitoral, a leitura da VISÃO desta semana será, por isso, um dos raros momentos em que o eleitor terá oportunidade de conhecer o pensamento europeu dos que se apresentam a sufrágio…
Vejamos, então, o que se propõem fazer os que nos pedem os votos.