Foram quatro anos envoltos em polémica, os de Donald Trump enquanto presidente dos Estados Unidos. Prestes a saber se vamos ter, ou não, uma recondução ao cargo, do candidato republicano, selecionamos alguns dos momentos marcantes do mandato que termina a 20 de janeiro.
Proibição de viagem
Uma semana depois de tomar posse, o Presidente norte-americano proibiu a entrada de pessoas de sete países com populações predominantemente muçulmanas – Iraque, Síria, Irão, Líbia, Somália, Sudão e Iémen – durante 90 dias. O objetivo, disse, foi “proteger os EUA do terrorismo”. A decisão originou manifestações de milhares de pessoas em vários aeroportos dos EUA e processos legais a contestar a decisão “discriminatória e xenófoba”.
Demissão do diretor do FBI
Em 2017, Trump demitiu o diretor do FBI, James Comey – uma ação tão inconsequente que levou a investigações dos serviços secretos para perceber se Trump estava a agir em nome de interesses da Rússia. O Presidente foi acusado de obstrução à Justiça pelos seus opositores. Segundo Comey, ele pressionou-o a encerrar as investigações sobre a interferência da Rússia nas eleições.
Saída do Acordo de Paris
Em junho de 2017, Trump anunciou que os EUA iriam interromper a implementação do Acordo de Paris e as suas “imposições financeiras draconianas”. O acordo tem como objetivo combater as alterações climáticas à escala mundial. Neste momento, 189 dos 197 países das Nações Unidas ratificaram o acordo. “Nós vamos ter o ar mais limpo e a água mais limpa”, sublinhou o Presidente. Em outubro, Trump acusou os cientistas que alertavam para o aquecimento global de terem uma “agenda política”.
Reforma fiscal
O “Tax Cuts and Jobs Act” foi apresentado por Trump em dezembro de 2017 e incluía mudanças radicais às leis fiscais norte-americanas. Entre estas, contam-se a mudança da taxa de impostos sobre empresas de 35% para 21 por cento. A lei recebeu críticas por representar “um benefício para as grandes empresas à custa da classe média”. Trump afirmou que o PIB ia subir 3% graças a esta reforma, mas a lei não atingiu nenhum dos seus objetivos ambiciosos.
Amizade com Putin
Em 2017, o G20 reuniu-se na Alemanha. Quando o jantar da conferência terminou, Trump decidiu sentar-se ao lado de Vladimir Putin, Presidente da Rússia. Até ao dia de hoje, ninguém sabe o que os dois discutiram em Hamburgo. Ao longo do seu mandato, Trump foi-se aproximando do ex-agente do KGB. No ano seguinte, os dois líderes voltaram a encontrar-se, em Helsínquia, onde o Presidente norte-americano declarou que confiava no Presidente russo.
Pais e filhos separados na fronteira
No verão de 2018, advogados de imigração e juízes norte-americanos denunciaram casos de pais que tinham sido separados dos seus filhos nos centros de detenção de imigrantes. Uma investigação do New York Times concluiu que 700 crianças – muitas delas com 4 anos – foram separadas dos seus pais depois de atravessarem ilegalmente a fronteira do Sul dos EUA. Apesar de a Administração norte-americana negar a política de “separação de famílias”, a situação continuou a agravar-se.
Gargalhadas nas Nações Unidas
Em setembro de 2018, Donald Trump anunciava, confiante, na assembleia-geral das Nações Unidas: “Em menos de dois anos, a minha administração terá alcançado mais do que qualquer outra administração na história do nosso país.” A confiança desvaneceu-se no momento em que os delegados da sala começaram a rir. Visivelmente atrapalhado, o Presidente dos EUA afirmou que “não esperava” esta reação. “Mas não faz mal” – continuou o seu discurso, apesar de ainda se terem ouvido algumas gargalhadas na audiência.
Reforma do sistema criminal
Trump assinou o “First Step Act” em dezembro de 2018, que foi aprovado com apoio dos partidos republicano e democrata. A lei apresenta mudanças no sistema das prisões federais e foi elogiada pelo seu combate às detenções em massa. Algumas das suas medidas são a redução das penas mínimas para crimes relacionados com drogas, o maior foco na reabilitação e a proibição da “solitária” para jovens.
Combate ao Estado Islâmico
O Daesh (Estado Islâmico) começou a ganhar destaque em 2014, quando conquistou territórios no Iraque e na Síria. Em março de 2019, o “califado” foi conquistado de volta graças ao exército norte-americano. No entanto, a guerra ainda não está ganha: contam-se ainda cerca de 18 mil combatentes do Daesh nestes dois países. No final de outubro de 2019, uma operação militar norte-americana levou à morte do seu líder Abu Bakr al-Baghdadi.
Relatório Mueller
Em 2019, o “Relatório Mueller” – uma investigação sobre a interferência da Rússia nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016 – concluiu que houve uma “sinergia política” entre os advogados da campanha de Trump e os russos em novembro de 2015. A investigação também descreveu dez episódios em que o Presidente norte-americano poderá ter obstruído a Justiça, antes e depois de ser eleito, mas deixou a decisão final ao processo de impeachment.
Impeachment
Em agosto de 2019, uma denúncia anónima alertou para uma conversa telefónica entre Trump e o Presidente da Ucrânia. De acordo com a transcrição da conversa entre os dois, Trump pediu ao Presidente ucraniano para investigar o antigo vice-presidente dos EUA, Joe Biden. Os democratas arguiram que Trump teria recorrido a auxílio estrangeiro para tentar interferir na campanha presidencial. O impeachment foi aprovado na Câmara dos Representantes, mas chumbado no Senado.
Força espacial
Em dezembro de 2019, Trump assinou um projeto de lei de 738 mil milhões de dólares para implementar o sexto ramo do Exército norte-americano – a Força Espacial. O objetivo desta força, que faz parte do departamento da Força Aérea, é “proteger a propriedade dos EUA no Espaço”, “impedir agressões no Espaço” e “realizar missões espaciais”.
O “vírus chinês”
Nos primeiros dias em que o vírus responsável pela Covid-19 começou a espalhar-se nos EUA, Trump adotou uma postura de despreocupação. Com 59 casos confirmados, afirmou que “um dia, por milagre, [o vírus] vai desaparecer”. Foi apenas a meio de março, com mais de mil casos confirmados nos EUA, que o Presidente reconheceu que existia “um inimigo invisível” – o “vírus chinês”. A descredibilização da Ciência e os ataques à China foram recorrentes desde o início da pandemia.
Lei e ordem
Quando George Floyd foi morto por um polícia de Minneapolis, milhões de norte-americanos saíram à rua para protestar contra o racismo nos EUA. Alguns dos protestos tiveram contornos violentos, com montras de lojas partidas ou esquadras vandalizadas. O Presidente adotou uma postura de “lei e ordem” (palavras que repete regularmente no seu Twitter), agradecendo os esforços da Guarda Nacional por lidar com “os anarquistas liderados pelos grupos antifascistas”, em Minneapolis.
Reforma do sistema judicial
O maior impacto de Donald Trump nos EUA poderá ser a sua reforma do sistema judicial norte-americano. Até ao momento, nomeou dois juízes para o Supremo Tribunal de Justiça – e o processo de nomeação da terceira juíza está em andamento. Ao todo, já nomeou 205 juízes para tribunais federais, todos com mandatos vitalícios. Em dezembro, os nomeados de Trump constituíam 25% de todos os juízes de tribunais de circuito norte-americanos.