Mehmet Oz junta-se a nomes como Robert F. Kennedy Jr., Elon Musk e Tom Homan, anunciados por Donald Trump, para integrarem a sua administração a partir de janeiro do próximo ano. O vencedor das eleições norte-americanas tem vindo a anunciar as diversas pessoas – e respetivos cargos – que irão chefiar os diferentes departamentos dos EUA durante o seu segundo mandato, e as suas escolhas têm gerado alguma surpresa.
Uma vez confirmada a sua nomeação pelo senado, Oz ficará responsável pelos Centros de Serviços Medicare e Medicaid (Centers for Medicare and Medicaid Services), seguros de saúde que possibilitam o acesso a cuidados médicos a milhões de norte-americanos idosos ou com baixos rendimentos. Os Estados Unidos não possuem um Sistema Nacional de Saúde, pelo que é necessário ter seguro de saúde de forma a ter acesso a cuidados médicos e hospitalares. “O Dr. Oz será líder no incentivo à prevenção de doenças, pelo que obteremos os melhores resultados do mundo por cada dólar gasto em cuidados de saúde no nosso grande país”, defendeu Trump, na rede social Truth Social.
O Medicaid é um seguro de saúde federal destinado a pessoas com mais de 65 anos ou com deficiência. Já o Medicaid possibilita que pessoas com baixos rendimentos tenham acesso a cuidados de saúde, e é financiado pelo governo norte-americano, em conjunto com os estados. Estes programas estão associados ao Affordable Care Act – lançado durante a administração Obama – que permite que milhões de norte-americanos tenham planos de seguro de saúde, mesmo que não se qualifiquem para um seguro de saúde.
Ao liderar a agência de programas de seguros, Mehmet Oz vai trabalhar em conjunto com Robert F. Kennedy Jr., nomeado para a chefia do departamento da saúde. “Ele é um médico eminente, cirurgião cardíaco, inventor e comunicador de classe mundial, que tem estado na vanguarda da vida saudável durante décadas”, explicou Karoline Leavitt, porta-voz republicana, no comunicado que anunciou a sua nomeação.
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As declarações polémicas de “Dr Oz”?
Apelidado como o “médico da América”, Mehmet Oz é um cirurgião cardiovascular que se tornou conhecido pelo público norte-americano por dar conselhos médicos nos programas de televisão The Oprah Winfrey Show (em 2004) e, mais tarde, no seu próprio programa The Dr. Oz Show, com início em 2009 e término em 2022. Apesar do sucesso televisivo – que lhe valeu 13 temporadas de programa – Oz, de 64 anos, não deixou de praticar medicina, tendo realizado cirurgias até 2018 e a sua licença permanece, até hoje, ativa no estado da Pensilvânia, segundo a Associated Press.
Oz é ainda autor de bestsellers do New York Times, apresentador de um programa de rádio, fundador de uma organização nacional sem fins lucrativos e vencedor de nove prémios Emmy para o seu programa diurno. No mesmo ano em que se despediu do mundo televisivo, Oz foi homenageado por uma estrela no passeio da fama em Hollywood, de forma a assinalar o fim do seu programa. Nascido no estado do Ohio, nos Estados Unidos, Oz é também filho de um pai turco, e chegou a integrar o exército turco de forma a manter a dupla nacionalidade.
Em 2022, o profissional de saúde, formado em Harvard, foi o candidato republicano, pelo círculo eleitoral da Pensilvânia, ao Senado dos Estados Unidos. Uma tentativa que, apesar de falhada, contou com o apoio de Donald Trump, que já tinha aparecido, em 2016, no seu programa televisivo, antes do seu primeiro mandato presidencial.
No decorrer da sua carreira televisiva, o cirurgião esteve no centro de diversas polémicas, alimentadas pelos seus conselhos de saúde e por promover produtos médicos sem evidências científicas. Um estudo de 2014, publicado na revista BJM, analisou as recomendações médicas dadas por Oz no seu programa e concluiu que cerca de metade dos seus conselhos não estavam ancorados em descobertas médicas.
Em 2012, por exemplo, Oz abordou no seu programa os benefícios de uma dieta à base de comprimidos de grãos de café verdes, defendendo que seriam “a cura mágica para a perda de peso”. “Pode pensar que a magia é um faz-de-conta, mas existem cientistas que dizem que este pequeno feijão é a cura mágica para a perda de peso para todos os tipos de corpo. … Este comprimido milagroso pode queimar gordura rapidamente”, disse num episódio emitido nesse ano.
Já em 2014, Oz recorreu ao congresso norte-americano, queixando-se que várias pessoas estavam a utilizar o seu nome para vender produtos de perda de peso. Mas o Senado considerou que a estrela de televisão fazia “parte do problema”, evocando o episódio das dietas de grãos de café verdes. “Quando apresenta um produto no seu programa, cria o que se tornou conhecido como o ‘Efeito Dr. Oz’ – aumentando drasticamente as vendas e levando os burlões a aparecerem da noite para o dia, utilizando anúncios falsos e enganadores para vender produtos questionáveis”, disse a senadora Claire McCaskill, numa audiência do Senado.
Em resposta, Oz disse acreditar “pessoalmente nos assuntos de que falo no programa” e reconheceu que “muitas vezes, eles não têm o peso científico necessário para serem apresentados como factos”. “A medicina é uma ‘guerra civil’ travada entre os médicos convencionais e aqueles que estão abertos a curas alternativas para doenças que vão desde a ansiedade ao cancro”, disse a um jornalista. Em outubro de 2014, segundo o Washington Post, todas as menções sobre os grãos de café verde foram apagadas do seu site.
Noutra polémica, em 2020, durante a pandemia de Covid-19, o médico afirmou que os responsáveis do governo deviam tomar hidroxicloroquina – um fármaco usado, na prevenção e tratamento de malária – apesar de não existirem provas sobre a sua segurança e eficácia contra o vírus. Donald Trump, na altura, declarou mesmo ter tomado o medicamento. Afirmações que levaram a agência norte-americana responsável pelos medicamentos a revogar a autorização de utilização de emergência da hidroxicloroquina.
Para além dos grãos de café, Oz promoveu no seu programa uma série de suplementos com, alegadamente, benefícios para a saúde que foram desmentidos pelas autoridades norte-americanas. Por exemplo, em 2012, afirmou que o selénio – um mineral com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias – seria eficaz na prevenção do cancro, uma associação que nunca foi comprovada cientificamente. Já noutro episódio o médico alegou que colocar uma barra de sabão de lavanda na cama, por debaixo dos lençóis, poderia ajudar a aliviar as dores nas pernas.
Oz esteve ainda no centro de polémica após defender que algumas das marcas de sumo de maçã tinham arsénico na composição. Um episódio dedicado à reconversão de pessoas homossexuais esteve também no centro de intensa contestação.