O homem que costuma tratar os jornalistas e os seus adversários políticos como “ratazanas” há muito que dizia ser “vítima de discursos de ódio”. O mês passado, na rede social Facebook, publicou um discurso a fustigar os seus detratores pela enésima vez e, paradoxalmente, admitiu que não ficaria surpreendido se uma personalidade pública fosse assassinada. Não se enganou. A 15 de maio, quando Robert Fico, primeiro-ministro da Eslováquia, saía da Casa da Cultura de Handlová, cidade localizada a duas centenas de quilómetros de Bratislava, a capital, decidiu dirigir-se a um grupo de pessoas que o aclamavam. Só que uma delas, Juraj Cintula, um poeta amador e antigo segurança de um centro comercial, de 71 anos, puxou de uma pequena arma de fogo e fez cinco disparos. Dois perderam-se numa árvore, outros dois atingiram a mão direita do governante e o último terá atingido o alvo desejado: o peito ‒ ou o abdómen ‒ do antigo comunista que fundou o partido Direção ‒ Social Democracia (SMER ‒ SD), no final do século passado. Instalou-se a confusão, os guarda-costas não cumpriram o seu papel (perderam mais tempo a imobilizar o atacante do que a colocar Robert Fico, em estado crítico, na viatura oficial), e deu-se início ao desfile de especulações. Como era possível uma tal falha de segurança na antiga localidade mineira, de 17 mil habitantes, maioritariamente votantes do SMER, em que os ministros estavam todos em peso para uma reunião em que se discutia a situação no país? Como é que a polícia não identificou, nem revistou, os mirones que se concentraram no local? Como é que o corpulento dirigente de 59 anos, que já ganhou quatro legislativas ‒ as últimas, no outono passado, com um programa assumidamente pró-russo, eurocético e anti-americano ‒, foi capaz de ser tão imprudente? Por que razão o carro blindado do chefe do governo estava ainda com as portas fechadas quando ele já se encontrava na rua?
Como sabemos, Fico sobreviveu mas, dada a gravidade dos seus ferimentos, acabou por ser transportado, de helicóptero, para o Hospital Roosevelt, em Banská Bystrica, uma cidade próxima, para ser assistido com maior brevidade. Quando ainda estava na sala de cirurgias, o seu ministro do Interior, Matus Sutaj-Estok, foi muito claro sobre o que tinha ocorrido: “Tratou-se de um ataque politicamente motivado”, perpetrado por um indivíduo “radicalizado” por forças liberais (entenda-se de esquerda) e pelos meios de comunicação social. Conclusão: “Estamos à beira da guerra civil. Esta tentativa de assassínio é a prova disso mesmo.”