Num ‘briefing’ virtual à imprensa, Deborah Lipstadt foi questionada pela Lusa sobre a forma como protestos contra a resposta de Israel em Gaza têm sido confundidos com apoio ao Hamas, especialmente por parte de políticos norte-americanos, incluindo candidatos presidenciais Republicanos, tendo a embaixadora considerado “perigoso colocar todos” no mesmo grupo.
“Acho que o que é perigoso é, claro, falar de maneira geral, pintar a situação com ‘traços grossos’, colocar todos no mesmo caminho, por assim dizer. Mas considero impressionante que muitos dos que criticaram a resposta de Israel muitas vezes não conseguiram criticar o que provocou essa resposta”, disse a enviada especial do Governo norte-americano para monitorizar e combater o antissemitismo.
“O Presidente, Joe Biden, foi muito, muito claro sobre isso. Vimos um comportamento (do Hamas) semelhante ao do ISIS (Estado Islâmico). Assistimos a crimes de guerra, à tomada de civis como reféns, à tomada de bebés de nove meses como reféns, ao assassínio de pais na frente das crianças ou vice-versa. Portanto, acho que aqui temos que realmente contextualizar as coisas e ver o que aconteceu”, avaliou.
Apesar dos “sentimentos” de que o povo palestiniano foi prejudicado “pela situação mundial, por outras nações, por Israel, pela sua própria liderança, por organizações dentro do Hamas”, a enviada defendeu que há “crimes de guerra” a ser cometidos e que ainda falta um olhar para a situação num “contexto completo do que está a acontecer”.
“Se estão a usar palestinianos como escudos humanos, isso é um crime de guerra. Isso não justifica que o outro lado cometa crimes de guerra. E ninguém justificaria isso. O meu país não justificou isso. Mas penso que há uma falha em olhar para estas coisas no contexto completo do que está a acontecer”, acrescentou.
Independentemente de concluir que o mundo está agora a testemunhar o maior aumento de antissemitismo em muitas décadas, Lipstadt reforçou que o seu Governo “não se opõe a protestos pacíficos” em cidades dos Estados Unidos e em outras partes do mundo, “porque a crítica à política israelita não é antissemitismo”, considerando “necessário tornar essa afirmação clara e inequívoca”.
“Acreditamos muito nisso. Mesmo quando o que os manifestantes possam estar a protestar é algo que vai contra a nossa política. No entanto, quando se vê pessoas a pedir que se mate judeus (…) ou a assediar manifestantes judeus (…), isso não é apoio aos direitos do povo palestiniano. Isso é antissemitismo, puro e simples. O mesmo acontece quando se expressa apoio às ações terroristas de 07 de outubro”, sublinhou a enviada norte-americana.
“Acreditamos que este tipo de mentalidade apenas incita mais ódio, mais morte, mais violência”, defendeu.
Entre casos recentes de antissemitismo em todo o mundo, Lipstadt referiu memoriais do Holocausto desfigurados na Grécia, na Dinamarca, no Canadá e nos Estados Unidos, cocktail molotov atirados contra sinagogas, inclusive em Berlim e Montreal, entre outros.
O Departamento de Educação dos Estados Unidos abriu uma série de investigações sobre antissemitismo e islamofobia em universidades de prestígio, cujos ‘campi’ foram abalados pelas reações à guerra entre Israel e o Hamas.
As universidades de Columbia, de Cornell e da Pensilvânia, três instituições de elite da costa leste norte-americana, estão entre as investigadas, anunciou o hoje o Departamento de Educação num comunicado.
Sete instituições, incluindo um grupo escolar do Kansas, são visadas nesta que é a primeira vaga de investigações deste tipo levadas a cabo pelo departamento desde o início do conflito entre Israel e o Hamas.
Cinco investigações dizem respeito a acusações de “assédio antissemita” e duas de “assédio islamofóbico”, segundo o departamento.
Nas últimas semanas, o Partido Republicano tem apelado à deportação de estudantes estrangeiros que pratiquem antissemitismo ou que apoiem as ações do Hamas.
Lipstadt frisou que esses estudantes têm de estar cientes das diferenças entre infração de leis e liberdade de expressão.
“Os Estados Unidos acreditam firmemente, esta administração acredita firmemente, nos protestos livres e pacíficos, na liberdade de expressão, mesmo que seja a liberdade de expressão que vai contra a política específica do Governo”, começou por dizer a enviada especial.
“Ao mesmo tempo, reconhecemos que isso não dá permissão para infringir leis de um local específico, sejam elas locais, estaduais ou federais. Portanto, não importa se são estudantes estrangeiros ou cidadãos dos Estados Unidos: se alguém infringir a lei, infringirá a lei. Se alguém expressar uma opinião que as outras pessoas consideram desconfortável, até mesmo deplorável, esse é o seu direito à liberdade de expressão”, acrescentou.
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