Chama-se Hezbollah, é um grupo xiita libanês, tem aumentado o fogo cruzado com Israel nas últimas três semanas e, dia 1 de novembro, reivindicou a autoria de três novos ataques contra alvos israelitas no norte do país.
Mas quem são os combatentes deste grupo, que conta com mais de 35 anos de existência, quem é o seu líder, quem os treina, quem financia as armas e os mísseis de precisão que possuem?
E, acima de tudo, será que a elevada tensão na fronteira entre Líbano e Israel, que já matou pelo menos 71 pessoas, levará a que o Hezbollah entre na guerra Israel-Hamas?
O que é o Hezbollah?
O Hezbollah é um partido político muçulmano xiita e um grupo militante, com sede no Líbano, que ganhou a reputação de ser “um estado dentro de um estado”, graças ao seu vasto equipamento de segurança, organização política e rede de serviços sociais.
Apesar de ter sido fundado no Líbano, o grupo é apoiado pelo Irão e tem na sua génese a oposição a Israel e à influência das potências ocidentais que operam no Médio Oriente.
Quando e como é que foi criada esta organização?
Em 1982, em plena guerra civil do Líbano (1975-1990), a Guarda Revolucionária do Irão recrutou combatentes islamistas xiitas, treinando-os com o objetivo de estender a Revolução Islâmica de 1979 a toda a região e combater as forças israelitas, que haviam invadido o Líbano nesse mesmo ano, provocando mais de 17 mil mortos, incluindo os massacres de Sabra e Chatila.
Em 1983, dois bombistas suicidas ligados ao grupo recém criado atacaram um complexo militar americano em Beirute, vitimando cerca de 300 soldados americanos e franceses e alguns civis.
Mas só em 1985 é que os militantes da organização haveriam de se unir sob o nome de Hezbollah, publicando formalmente o seu primeiro manifesto.
O que defende o Hezbollah?
Quando surgiu, o grupo procurava a expulsão das tropas israelitas e dos seus aliados, como os Estados Unidos e a França, do território libanês, algo que conseguiram em maio de 2000, quando as últimas tropas estrangeiras deixaram o país.
Porém, a hostilidade entre o grupo fundamentalista e o estado de Israel não terminou nesse ano. Atualmente, a principal motivação para as tensões é o facto de os membros do Hezbollah considerarem Israel um estado agressivo e colonizador, por ter sido construído em terras muçulmanas.
Além disso, de acordo com o manifesto proclamado em 1985, a organização também que eliminar do Líbano qualquer organização que se oponha à sua linha politico-religiosa de modo a criar um regime teocrático.
Quem é o líder do Hezbollah?
Sayyid Hassan Nasrallah encontra-se à frente da organização desde 1992, ano em que o seu antecessor foi assassinado pelas Forças de Defesa de Israel. Desde o início, que Nasrallah decidiu dar um rumo político à organização, disputando, em 1992, as eleições gerais libanesas, nas quais conquistou oito cadeiras no parlamento.
Atualmente, a organização estrutura-se em quatro ramos: político, social, económico e militar. A nível político, tem membros no parlamento, ministros e estabeleceu uma aliança com os partidos cristãos. Na área social, realiza trabalho em hospitais e escolas xiitas. Já no campo económico, além de procurar recursos em todo o mundo, possui uma rede de televisão, a Al Manar.
No campo militar tem milícias envolvidas no conflito da Síria, onde apoia o governo Bashar Al Assad, contra os rebeldes, por um lado porque deseja ter o apoio do líder no conflito contra Israel e, por outro, porque alguns confrontos na Síria ocorrem junto à fronteira com o Líbano, região onde existem várias povoações xiitas.
Qual a extensão do poder e alianças militares do Hezbollah?
Enquanto outros grupos, nascidos durante a guerra civil do Líbano, renunciaram à luta armada, após o término do conflito, o Hezbollah manteve todo o material bélico com o objetivo de combater as forças israelitas que ocupavam, predominantemente, a zona xiita muçulmana, no sul do país.
Após anos de guerrilha, Israel deixou a região, no ano 2000. No entanto, seis anos mais tarde, o Hezbollah atravessou a fronteira com Israel, raptando dois soldados e matando outros, iniciando uma guerra de cinco semanas. Durante o conflito, foram disparados milhares de mísseis, morrendo 1200 pessoas no Líbano, a maioria civis, e 158 israelitas, a maioria soldados.
O poder militar do Hezbollah cresceu depois de a organização ter passado a estar representada também na Síria, outro aliado do Irão, a fim de ajudar o presidente Bashar al-Assad a combater rebeldes muçulmanos sunitas.
Atualmente, segundo as palavras do próprio líder, Sayyed Hassan Nasrallah, em 2021, o grupo tem 100 mil combatentes – um valor que alguns analistas e serviços de informações ocidentais dizem ser menos de metade. Além disso, possui armas, de mísseis guiados de precisão a drones, fornecidas ou financiadas pelo Irão, que os Estados Unidos estimam ter destinado, nos últimos anos, centenas de milhares de dólares à organização.
O Hezbollah é considerado uma organização terrorista?
No mundo árabe e muçulmano, o Hezbollah é respeitado como uma força de defesa contra Israel e contra o envolvimento do Ocidente no Médio Oriente. As várias ações sociais em defesa do povo xiita fazem com que muitos classifiquem o grupo como um “Estado dentro do Estado”, conquistando a simpatia até mesmo de alguns sunitas e cristãos no país.
Porém, os Estados Unidos e os estados árabes do Golfo, aliados dos EUA, incluindo a Arábia Saudita, designam o Hezbollah como organização terrorista, devido ao facto de, mesmo após a retirada de Israel do Líbano, em 2000, o Hezbollah ter continuado a realizar ataques que resultaram na morte de milhares de cidadãos.
Recentemente, outros países, como a Alemanha, França e Reino Unido, têm ponderado classificar o grupo da mesma forma que os EUA, no entanto, a União Europeia, recomenda que os seus estados membros declarem a ala militar do Hezbollah como um grupo terrorista, mas não a sua ala política.
Que papel desempenha a organização no conflito entre Israel e os Hamas?
Apesar de, a 7 de outubro, dia em que os militantes do Hamas atacaram Israel, o Hezbollah ter dito que estava em “contato direto com os líderes da resistência palestina”, ainda não é claro se o grupo xiita libanês intervirá na guerra entre Hamas e Israel em nome dos palestinianos.
Ainda assim, a 21 de outubro, o vice-líder do grupo afirmou que Israel pagaria um preço alto sempre que iniciasse uma ofensiva terrestre na Faixa de Gaza, revelando ainda que já tinha militares na fronteira. E autoridades do Hamas disseram que se Israel iniciar uma ofensiva terrestre em Gaza, o Hezbollah juntar-se-á aos combates.
De facto, desde dia 7 de outubro, o Hezbollah tem estado envolvido em trocas cada vez mais intensas de tiros transfronteiriços com Israel.
Porém, ainda que a organização possa partilhar com o Hamas o objetivo de destruir o Estado Judaico, pode ter muito a perder, tendo em conta a crise económica de 2019, que deixou o Líbano muito fragilizado e fez com que o Hezbollah perdesse popularidade entre a população.