“Ter jovens a exigir direitos na rua é extremamente positivo (…) e os partidos políticos devem capitalizar este envolvimento massivo de jovens na exigência de direitos porque são efetivamente pessoas que podem transformar a política nacional”, disse Lorena Mazive, coordenadora de programas no IMD, à margem de um debate sobre a “Agenda da Juventude Na Governação Autárquica”.
Partidos da oposição, sobretudo a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), têm promovido, um pouco por todo o país, marchas de contestação dos resultados das eleições de 11 de outubro, juntando milhares de pessoas, na sua maioria jovens, que denunciam uma alegada “megafraude” no escrutínio que deu, maioritariamente, vitória ao partido no poder.
“Se o jovem já tem este olho de exigir direitos quer dizer que ele é também capaz de decidir, porque ele sabe o que é melhor para si e sabe o que é necessário para uma sociedade normal andar”, referiu Lorena Mazive.
O Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira força parlamentar, apelou para que mais jovens adiram às marchas, considerando que a sua participação nas contestações é um “reflexo da má governação do partido Frelimo”.
“A juventude sentiu-se lesada por expressar o seu direito ao voto nas urnas em 11 de outubro e alguém acha que pode pontapear a Constituição da República para usurpar-se desse direito”, disse Saíde Abílio, do MDM.
Sobre a participação de jovens nas marchas, a Renamo, maior partido da oposição, considerou que as imagens que circulam nas redes sociais “falam por si”, reiterando que “ninguém obrigou nenhum jovem a fazer-se à rua” para contestar os resultados eleitorais, referiu Zacarias Silvestre, da Liga da Juventude da Renamo.
Já a Organização da Juventude de Moçambique (OJM), da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), pediu que os jovens não sejam promotores de “confusão”, considerando as marchas “desnecessárias”, enquanto o país aguarda pelos resultados.
“Não façam confusão de forma desnecessária, meus irmãos jovens (…) A confusão não vai resolver o problema”, disse Silva Livone, secretário-geral da OJM, pedindo calma porque “a nação não termina nestas eleições”.
O Governo moçambicano apelou hoje à serenidade, face às marchas que se têm realizado no país, considerando-as “normalíssimas”, desde que se respeitem as leis.
As sextas eleições autárquicas em Moçambique decorreram em 65 municípios do país no dia 11 de outubro, incluindo 12 novas autarquias, que pela primeira vez foram a votos.
Segundo resultados distritais e provinciais intermédios divulgados pelo STAE nos últimos dias sobre 50 autarquias, a Frelimo venceu em 49 e o MDM na Beira.
Pelo menos cinco tribunais distritais já reconheceram irregularidades nas eleições e ordenaram a repetição de vários atos eleitorais, em alguns casos com os órgãos eleitorais e o partido no poder a submeterem recursos juntos do Conselho Constitucional (CC) em contestação às sentenças, acórdãos e despachos dos tribunais distritais.
O CC, a quem cabe exclusivamente a validação de eleições em Moçambique, começou hoje a decidir sobre o processo, tendo anulado a decisão de invalidar o escrutínio em Chokwé, que tinha sido tomada por um tribunal distrital.
O consórcio Mais Integridade, coligação de organizações não-governamentais moçambicanas que observaram o processo, acusou a Frelimo, partido no poder, de ter manipulado os resultados das eleições autárquicas, protagonizando “um nível elevado de fraude”.
LN (EAC) // VM