A Manifestação Estatal do Orgulho de Madrid, que tradicionalmente mobiliza centenas de milhares de pessoas e é uma das maiores do mundo do movimento LGBTI+ (pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, intersexuais e outras), está este ano marcada pelo avanço da extrema-direita em Espanha, tendo os organizadores assumido a especial “politização” da iniciativa a poucas semanas de eleições nacionais, marcadas para 23 de julho.
O partido de extrema-direita VOX, na sequência das eleições locais e regionais de 28 de maio, entrou em centenas de governos municipais e em dois autonómicos nas últimas semanas, com acordos programáticos e decisões que associações e partidos de esquerda consideram ameaçar a igualdade de género ou os direitos das pessoas LGBTI+.
Esta semana, o VOX vetou as bandeiras arco-íris, símbolo da luta contra a discriminação por causa da orientação sexual, em edifícios públicos de municípios e regiões onde está nos governos e onde normalmente eram hasteadas no Dia Internacional do Orgulho LGBTI+ (28 de junho).
Há poucos dias, o VOX colocou numa das principais ruas de Madrid uma lona que cobria a fachada de um edifício em que uma mão com uma pulseira da bandeira espanhola no pulso atirava para um caixote do lixo os logótipos e bandeiras do movimento feminista, do movimento LGBTI+, da Catalunha e da Agenda 2030 da ONU.
As associações de defesa de direitos de pessoas LGBTI+ classificaram como “lona do ódio” esta mensagem do VOX, apelaram à participação na marcha de sábado de Madrid e mudaram mesmo o lema da manifestação, cuja mensagem inicial estava centrada na diversidade familiar e agora passou a ser: “Pelos nossos direitos. Pelas nossas vidas. Com orgulho!”.
“É um novo exemplo do projeto de ódio que tem VOX para Espanha”, disse Roni de la Cruz, o presidente da associação COGAM, uma das que organiza a marcha de sábado, a propósito da “lona do ódio”, que entretanto foi retirada por ordem da comissão nacional de eleições espanhola.
“Simboliza a discriminação que quer implementar este partido”, afirmou Roni da la Cruz, dizendo que o VOX quer “isolar, discriminar e expulsar” os movimentos LGBTI+ da sociedade.
Também a presidente da federação nacional FELGTBI+, Uge Sangil, garantiu que estas associações “não vão permitir que o partido de extrema-direita continue a ameaçar o movimento LGBTI+” e apelou à participação de todos os cidadãos na marcha de sábado na capital espanhola.
“Conquistámos direitos e vamos defendê-los. Nem um passo atrás”, afirmou.
Esta federação lançou nas últimas semanas uma campanha em que apela também à participação nas eleições de 23 de julho, mas sem votos nos partidos de direita, atendendo a que o Partido Popular (PP) está a ser, na maioria dos casos, a porta de entrada da extrema-direita nos governos municipais e regionais, através de coligações.
“Travemos o governo do ódio”, pede a federação, a poucas semanas das eleições que, segundo as sondagens, o PP vencerá, mas sem maioria absoluta, cenário este que poderá conseguir com uma aliança com o VOX, tal como está a acontecer em municípios e regiões autónomas.
As associações esperam mais de um milhão de pessoas na marcha de sábado de Madrid, enquanto as autoridades responsáveis pela segurança estimam “uma afluência massiva” de cerca de um milhão, mais 300 mil do que na edição de 2022.
Foi organizado um dispositivo de segurança de mais de 3.700 polícias para as iniciativas relacionadas com a celebração do “orgulho LGBTI+” deste ano em Madrid, entre quarta-feira passada e o próximo domingo.
Trata-se do dobro de polícias que integraram a operação do ano passado, segundo a Polícia Nacional, que assumiu haver um reforço especial previsto para sábado, coincidindo com a marcha convocada para Madrid.
Entre os diversos meios e forças especiais mobilizadas, haverá elementos do Grupo de Delitos de Ódio e polícias à paisana.
“Madrid estará controlada e vigiada em todo o momento, desde o ar até ao subsolo”, afirmou uma porta-voz da polícia.
MP // SCA