Um novo relatório da The Citizen Lab, uma organização dedicada a monitorizar ataques digitais, revelou que pelo menos 65 representantes públicos da Catalunha foram vítimas de espionagem entre 2017 e 2020. Os alvos incluíram o atual líder catalão, Pere Aragonès, e vários eurodeputados, deputados locais, advogados e ativistas civis. Foram também atacados 3 ex-presidentes do governo regional, entre eles Carles Puigdemont – que, em 2017, tentou sem sucesso declarar unilateralmente a independência da Catalunha face a Espanha.
No caso da Catalunha, o ataque foi executado através de ‘softwares’ de espionagem, entre eles o já conhecido Pegasus – que foi responsável por pelo menos 63 dos 65 casos –, um ‘spyware’ desenvolvido pela empresa de ciberarmas israelita NSO, que tem estado ligado a vários casos de espionagem visando jornalistas, ativistas e políticos um pouco por todo o mundo.
Praticamente todos os afetados pelo ataque digital parecem estar ligados ao movimento pró-independência. Segundo o relatório, 31 deputados regionais foram afetados, dos quais 27 pertencem a partidos pró-independência. Alguns dos advogados que representam os líderes separatistas também estão entre as vítimas. É o caso de Gonzalo Boye, advogado de Puigdemont, ou Andreu Van den Eynde, que representa vários políticos catalães, incluindo Oriol Junqueras, um antigo vice-presidente regional.
As provas foram recolhidas após uma análise forense aos telemóveis das vítimas que decidiram colaborar com o The Citizen Lab. Muitos dos telemóveis dos visados foram infetados por mensagens que continham links maliciosos, algumas delas simulando comunicações oficiais do governo espanhol, como as provenientes da Segurança Social ou das Finanças. Algumas delas eram incrivelmente personalizadas, como a recebida por Jordi Baylina, o diretor tecnológico da empresa Polygon, dedicada às criptomoedas, que se aparentava ao link para aceder ao cartão de embarque de um voo na companhia aérea Swiss Air, que Baylina comprara pouco tempo antes.
No relatório, o The Citizen Lab, baseado da universidade de Toronto, no Canadá, admite não conseguir “atribuir conclusivamente as operações a uma entidade específica”, acrescentado, no entanto, que “fortes provas circunstanciais sugerem o envolvimento das autoridades espanholas”.
Pere Aragonès reagiu às conclusões do relatório na rede social Twitter, dizendo que “a operação de espionagem massiva contra a independência catalã é uma vergonha injustificável. Um ataque gravíssimo aos direitos fundamentais e à democracia”. Rotulou ainda o ataque como “mais um exemplo de repressão contra um movimento pacífico e cívico”.