O conteúdo do Pavilhão de Angola “foi baseado na tradição de Sona”, explicou Albina Assis, a comissária-geral de Angola para a Expo 2020 Dubai, evento que arrancou em 01 de outubro e dura até março do próximo ano.
A partir do tema geral da exposição mundial “Connecting Minds, Creating the Future” (Conectar mentes, Criar o futuro), chegou-se ao mote “Conectar a tradição para inovar”, ligado à oportunidade, embora o Pavilhão de Angola esteja posicionado no distrito da mobilidade (a Expo Dubai está dividida em três subtemas, denominados distritos: sustentabilidade, mobilidade e oportunidade).
“Porque exatamente conectar as mentes para criar o futuro é juntar tudo para uma inovação”, explicou a comissária-geral de Angola.
“E nós fomos buscar o nosso passado para inovar. É este fundamentalmente o tema do nosso pavilhão, baseado na cultura Sona, que é uma cultura tradicional de uma região do nosso país, a região leste das Lundas”, de onde é originário o povo Tchokwe, “que no passado, muito antes de haver países, era um império Lunda”.
A Sona, recentemente elevada à categoria de património cultural imaterial, consiste numa cultura de ensinamento “com desenhos na areia”.
“Esses desenhos na areia estão conectados com uma inovação, ou seja, uma tecnologia que é a linguagem binária. Os desenhos na areia é o zero, é o traço, o nosso pavilhão é exatamente baseado nisso”, acrescentou Albina Assis.
Sobre a entrada do pavilhão, a responsável descreveu: “É aquilo que eu chamo o ‘meu jango'”, que na tradição africana é um local onde as pessoas se reúnem e recebem os amigos e onde “se faz tudo, mas aberto, só tem o teto”, referiu.
“É por isso que este nosso pavilhão também é assim: é aberto, o zero que é esta parte de entrada e depois temos o traço que é a parte onde nós estamos, que é a parte onde está a exposição”, detalhou.
“Procuramos mostrar realmente que da tradição podemos chegar ao que é moderno e ao que é atual”, sublinhou a responsável.
Dentro da exposição, Angola conta com três ‘clusters’: tecnologia, educação e emprego.
Na área de emprego, o país apresenta exemplos de ‘startups’ como o Tupuca, que faz a distribuição de alimentação, de produtos farmacêuticos, ou de outra tecnológica para marcação de consultas médicas, entre outras.
“Além de mostrar esta cultura, interessa-nos também mostrar que Angola é um país que está em progresso, é um país que está em desenvolvimento para atrair o que nós precisamos: investimentos”, sublinhou.
“Nós precisamos de atrair investimentos e os nossos investimentos não têm cor, nem bandeira, venham eles do norte, do sul da Europa, da Ásia, são investimentos, porque Angola precisa de se desenvolver e nenhum país se desenvolve só com os seus próprios meios”, prosseguiu.
Aliás, “os países desenvolvem-se de uma forma global, com meios vindos de todos os lados e é isso que Angola procura fazer”, disse, salientando que dentro dos programas Angola é B2B (‘business to business’), para que, “juntamente com os investidores daqui, locais, e investidores de outros países que estejam presentes”, seja possível ver “quais são os meios de investir em áreas” como a agricultura.
“Angola é um país extremamente agrícola”, mas se tiver “10% da área cultivada é muito”, apontou, salientando que há “muitas áreas virgens” no país.
Albina Assis, que foi ministra dos Petróleos, recorda que em 2007, numa tese de MBA que fez chamou a atenção para a necessidade de Angola, que é um país produtor, dar sustentabilidade ao petróleo.
“Como? Transformar os rendimentos do petróleo noutros rendimentos renováveis” como as energias renováveis, agricultura, pesca e outros recursos minerais.
“Temos outros recursos minerais, pequenas joias, ferro, cobre, mas também temos um recurso mineral muito importante e que está muito ligado ao local onde nos encontramos [Dubai, Emirados Árabes Unidos], que são os diamantes”, apontou.
“Angola é um dos países de África com uma produção de diamantes bastante elevada e isto leva-nos a ter uma conexão muito grande com este país porque este país também é um grande comprador de diamantes. Este e outros, mas sobretudo este país”, rematou.
Quer dizer que Angola está no sítio certo? “Está no sítio certo. Isso é mesmo assim. Temos dado muitas voltas, mas agora pousamos no sítio certo como se costuma dizer”, respondeu prontamente Albina Assis, a sorrir.
A responsável destacou as boas relações entre os países de língua oficial portuguesa e destacou o sucesso do Festival da Lusofonia, que decorreu em outubro.
“Com Portugal temos muito boas relações”, disse, “independentemente do pastel de nata e do vinho do Porto”, e Angola já marcou presença no Pavilhão de Portugal.
Além disso, apontou “a honra” da visita da ministra da Cultura portuguesa, Graça Fonseca, ter visitado o pavilhão angolano.
Sobre a história do Festival da Lusofonia, Albina Assis conta que tudo nasceu de uma conversa que teve com o antigo comissário português sobre fazer uma iniciativa sobre a língua portuguesa. Depois foi trocando conversas com colegas de outros países, a organização da Expo 2020 Dubai apoiou e foi o único festival realizado até agora com base no critério da língua (os festivais têm sido realizados por continentes).
E porquê? “Eu digo e repito, porque o português, embora seja uma língua que por vezes parece desconhecida, é falada em quatro continentes”.
Atualmente, a média diária de visitas ao Pavilhão de Angola ronda os 5.000.
Albina Assis sublinhou que este evento, ao contrário da Expo em Itália, é realizado durante um período de pandemia, mas está otimista.
Questionada sobre as expectativas, disse que “são muito positivas”.
E acrescentou: “Fico impressionada de ver tanta gente a entrar, as pessoas gostam, isto tem muita coisa diferente e as pessoas (…) não querem ver o que já veem todos os dias, querem ver diferente e este pavilhão tem a vantagem de fazer a diferença”, rematou.
Os organizadores da Expo 2020 Dubai classificaram o primeiro mês do evento como um “grande sucesso”, anunciando 2.350.868 visitas de 01 a 31 de outubro.
ALU // JH