Mohammed Omer Rahimy, de seu nome completo, é um homem afável, apaixonado pela cultura do seu país e que, por vezes, emociona-se ao falar do potencial do Afeganistão, país que deixou há mais de 40 anos.
Quem passa pela rua do Pavilhão do Afeganistão, no distrito da Oportunidade, mal se dá por ele, de tão discreto que está, mas quando se entra as cores dão outra vida a um país que enfrenta uma nova crise, com chegada dos talibãs ao poder.
Em agosto, quando os talibãs tomaram Cabul, a participação que estava a ser preparada pelo governo anterior ficou suspensa e com a indicação de acabar.
No entanto, Omer Rahimy não baixou os braços e contactou a organização da Expo 2020 Dubai, disposto a disponibilizar o espólio cultural da família. Sem ele, o Afeganistão não estaria agora representado na exposição mundial.
“Eu gosto muito de ver a minha cultura em minha casa, na minha loja, no meu trabalho”, “eu vivo no Afeganistão, […] porque eu adoro o meu país”, afirma Omer Rahimy, com um sorriso, acompanhado de um dos seus filhos que, de vez em quando, traduz as perguntas em inglês para farsi.
No início da entrevista cumprimenta-nos de uma forma efusiva com um “salam alaykum”, dando-nos as boas-vindas ao Pavilhão e desejando “o melhor para todas as pessoas em Portugal”, um dos países que tem acolhido afegãos.
“Eu adoro Portugal, as pessoas são muito simpáticas”, remata aquele que permitiu que a Expo Dubai tivesse a representação do Afeganistão.
Omer Rahimy conta que a sua experiência em exposições mundiais é longa, até chegou a visitar a Expo’98, que se realizou em Lisboa. No caso da exposição mundial deste ano, tendo em conta que “o regime mudou no Afeganistão”, Rahimy considerou que não podia cruzar os braços e avançou.
“Eu ajudo o meu povo, eu tenho o meu país, isto é muito importante para mim. Contactei o escritório da Expo Dubai, já me conheciam de outras expo, conheciam a minha experiência” e possibilitaram a exposição do país, contou.
“Porque é o meu país, adoro o meu povo”, reforça o empresário que reside na Áustria desde 1978.
“Mantemos este pavilhão aberto para as pessoas do Afeganistão, e começámos muito rapidamente, entre três ou quatro dias, e o que se vê aqui veio da Áustria, porque a minha coleção está na Áustria”, salienta.
Todo o material, desde o rabab, um instrumento musical, até pedras lápis lazuli, passando por trajes, tapetes e bordados e o lavadouro de mãos antigo, peça que elegeu como uma das suas preferidas, veio da família Rahimy, material que depois da exposição mundial terminar, em março de 2022, regressa a ‘casa’.
“O Afeganistão não é um país pobre, para mim o Afeganistão é um país rico”, afirma, com lágrimas nos olhos, marcados pelas saudades de um país onde a paz tarda a chegar.
Atualmente, “quando oiço sobre o meu país eu vejo que é o nosso trabalho [divulgar a cultura] porque Afeganistão é rico e temos recursos, temos petróleo, gás, ferro, urânio, temos a melhor água”, tal como comida fresca, “temos pessoas simpáticas, sabemos receber”, elenca, salientando que apesar das várias tribos, são todos família.
“Para mim é muito importante [manter a cultura viva] para a nova geração, os jovens, faço por eles, porque quando eu morrer o meu filho irá continuar a fazer o mesmo”, diz, alertando: “Quando esquecemos a nossa cultura, esquecemos tudo”.
Omer Rahimy diz que este é o seu trabalho. Pergunto-lhe se o vê como missão? Sorri e responde: “Eu? Agora sou servo do Afeganistão, faço-o pelo meu país”.
Salienta que tem “uma boa vida” e um “bom trabalho”, mas que tudo o que faz é também em prol do seu país.
“Isso é muito importante pra mim”, abrir a porta “para o mundo ver a nossa cultura”, como os afegãos vivem, confessa.
“Trazer ao mundo ao Afeganistão, […] fico muito contente quando as pessoas veem o que é o Afeganistão, porque as pessoas ouvem outra coisa o tempo todo” e “quando aqui vêm, a mente muda e esse é o meu ponto”.
Omer Rahimy agradece ao governo dos Emirados dos Árabes Unidos o facto de ter permitido a abertura deste pavilhão, cujo tema central é a cultura.
Com 63 anos cumpridos na véspera, Omer Rahimy relata que vive há 43 anos na Áustria, mais concretamente em Viena, dada a situação complexa do país na altura.
“Todos os meus filhos nasceram na Áustria e a minha família, a família Rahimy está também na Áustria, mas noutro lugar”, conta.
De acordo com um dos filhos, a descendência do pai divide-se entre quatro rapazes e cinco raparigas.
“A minha profissão vem da minha família e eu fui para Viena porque a situação no Afeganistão tinha mudado e era melhor para mim estudar e fazer negócio”, prossegue.
Criou uma empresa na Áustria e abriu uma loja galeria com todo o material vindo do oriente, deste têxteis, pedras, carpetes, móveis, bordados, uma tradição que já vinha do pai, do avô, de várias gerações.
A família Rahimy, diz, tem a maior coleção cultural do Afeganistão.
“Entre 1978 até 2002 fizemos exibições culturais [do Afeganistão] na Europa e em alguns outros países” e em 2001, na sequência de nova mudança no Afeganistão, Omer Rahimy voltou ao país e visitou entre 18 e 20 províncias, onde fotografou, filmou e tirou apontamentos sobre a cultura do país.
Já levou, diz, exposições do país desde a Áustria, Alemanha, Holanda, China e até Coreia, entre outros.
Sobre a mensagem que gostaria de passar às pessoas, é a de que o país quer “paz” para o povo.
“A minha partilha com as pessoas é: ‘por favor não esqueçam o seu país, não esqueçam o seu povo'” do Afeganistão e “isso é importante para nova geração, estudem, aprendam, trabalhem” e façam pelo país, remata.
Ainda há familiares Rahimy no Afeganistão, muitos morreram, mas o responsável pelo Pavilhão afegão não dá mais detalhes. O que se percebe, já que a situação no país está longe de ficar pacífica a curto prazo.
ALU // JNM