No dia em que o corpo do general Qassem Suleimani foi recebido no Irão por dezenas de milhares de pessoas, que acompanharam de forma emotiva o cortejo fúnebre nas ruas, o governo iraniano emitiu um comunicado anunciando que deixaria de respeitar, a partir de hoje, os termos do acordo nuclear assinado em 2015. Os EUA já o tinham feito, há dois anos, por decisão de Donald Trump, e a Agência Internacional de Energia Atómica, bem como o Reino Unido, França ou Alemanha, tiveram grandes dificuldades em manter o Irão no acordo, desde então.
Também na tarde deste domingo, no Iraque, o parlamento aprovou, por 170 a 0, uma lei especial para que todas as tropas estrangeiras abandonem o país “rapidamente”. Os cinco mil militares norte-americanos que se encontram em Bagdad já não são bem-vindos e a coligação internacional contra o Estado Islâmico também suspendeu hoje a sua atividade.
As cerimónias fúnebres de Qassem Suleimani vão prolongar-se até terça-feira, 7, prevendo-se que o seu caixão percorra quatro cidades. Este domingo multiplicaram-se as manifestações noutros países da região, com milhares de pessoas nas ruas no Líbano, no Iraque e no Paquistão. No Irão, a recepção foi de tal forma esmagadora na cidade de Ahvaz que as autoridades atrasaram o transporte previsto para Teerão. Imagens aéreas da agência de notícias iraniana, transmitidas pela BBC, permitem ver a multidão que se juntou.
Sem pressas, Irão promete resposta implacável
A vingança serve-se fria. É isso, em resumo, o que os mais destacados membros do governo iraniano têm deixado transparecer em entrevistas internacionais, ao longo do fim de semana. Não há pressa para retaliar. Mas a resposta será dada, asseguram, na altura que o Irão considerar ser a mais apropriada.
Este domingo, numa entrevista à CNN, o conselheiro do ayatollah Kamenei em matérias de Segurança e Defesa, e que já foi ministro da área, verbalizou talvez a ameaça mais concreta contra os EUA desde a morte do general Qassem Suleimani num ataque norte-americano, junto ao aeroporto de Bagdad, na passada sexta-feira. O major-general Hossein Dehghan recusou a ideia de que pudessem ser outras forças militares próximas do Irão, como o Hezbollah, a responder ao ataque americano. “A América atuou diretamente contra nós – por isso, nós iremos atuar diretamente contra a América.”
O major-general iraniano disse ainda que poderá ser esperada uma “resposta militar contra instalações militares norte-americanas”, algo que no sábado, e também em entrevista à CNN, o embaixador do Irão junto das Nações Unidas, Majid Ravanchi, já tinha deixado claro, quando lhe foi perguntado se a situação iria evoluir para uma guerra entre os dois países: “A resposta a uma ação militar é uma ação militar. Que outra coisa podem esperar do Irão?”
Donald Trump continua muito ativo no Twitter, e no domingo, 5, disse que os EUA acabaram de gastar seis mil milhões de dólares em equipamento militar e que enviariam, sem hesitação, algum desse “equipamento a estrear” para o Irão.
Ameaçou também destruir 52 locais de interesse cultural no Irão: um por cada refém feito em Teerão, em 1979. Mais tarde, o Secretário de Defesa norte-americano “corrigiu” o presidente, dizendo que os alvos seriam militares. A destruição de locais históricos é um crime de guerra à luz das leis internacionais.