O PS deverá vencer as eleições europeias deste domingo com uma vantagem de cerca dez pontos relativamente ao PSD. A projeção da Universidade Católica – números mais concretos, só a partir das 22h – apontam para um resultado entre os 30 e os 34%. Ana Catarina Mendes, número dois do partido, recusa falar na possibilidade de o partido não ir além do “poucochinho” de há cinco anos e de poder não eleger o nono eurodeputado. A secretária-geral-adjunta do PS insistiu sempre na mesma fórmula: as projeções revelam “uma clara vitória” dos socialistas.
Foi “uma clara vitória do PS e uma clara derrota da direita”, começou logo por dizer Ana Catarina Mendes na reação às projeções. “Isso diz bem da campanha que o PS fez ao longo de seis meses, das nossas respostas para a Europa e de confiança no PS como força progressistas, de desenvolvimento, de futuro” para o país.
A número dois do PS alargou a leitura ao resultado conseguido pelo “conjunto dos partidos que sustentam o Governo”. Nesse universo – que junta ao resultado do PS os do Bloco de Esquerda e da CDU – “há um claro reforço, e isso é positivo”, destacou.
Sobre a possibilidade de o PS não reforçar a representação em Bruxelas, com a eleição de Manuel Pizarro, no nono lugar, Ana Catarina Mendes só teve palavras vagas. “Cada europdeutado será mais um a juntar-se” aos atuais oito. “O derrotado”, voltou a insistir “é a direita, e quem vence estas eleições é o PS”.
A dirigente socialistas reconhece o empenho que o próprio António Costa dedicou à campanha. Com o fantasma do “poucochinho” que com que se lançou à liderança (numa referência aos 31,46% de António José Seguro, em 2014), é à “distância” que o PS conseguiu relativamente ao PSD que os socialistas se agarram para defender a ideia de uma “calara vitória” nesta noite eleitoral.
A vitória de um “governo socialista”
Poucos minutos antes de Ana Catarina Mendes subir ao púlpito montado no Hotel Altis, Duarte Cordeiro, presidente da Federação da Área Urbana de Lisboa do PS, também já falava numa “óbvia vitória dos socialistas” e assinalava a vantagem relativamente ao PSD. Um resultado que, “aparentemente, não é por poucochinho”.
O PS deve eleger, com segurança, o mesmo número de eurodeputados que tem atualmente em Bruxelas mas está ainda em aberto a possibilidade de reforçar essa representação no Parlamento Europeu para os nove elementos. “O PS ganhou estas eleições”, assinalou Duarte Cordeiro numa primeira reação às projeções. “O PS fez a melhor campaha e teve um resultado inequívoco de confiança dos portugueses”.
O líder da PS/FAUL lê, desde já, aquilo que considera ser “um sinal mt importante a nivel europeu”: o de “um governo europeu, socialista, liderado por António Costa ter ganhado da forma que ganhou”.
Esquerda a duas velocidades
A primeira reação do PCP foi austera. Perante projeções que dão uma queda face a 2014 – e que pode chegar aos 5% – o partido, reunido na sede de trabalho do edifício Vitória, na Avenida da Liberdade, prefere esperar pelo adiantar da noite e por números mais concretos para pronunciar-se sobre o desfecho destas europeias. Mas lá vai dizendo que, desta vez, e ao contrário de há cinco anos, não se sentia de forma tão clara a “mão” da União Europeia nos destinos do país.
Nestas eleições, “o quadro era claramente mais difícil”, justificou João Ferreira. Ainda não havia resultados finais, apenas projeções, quando o cabeça de lista da CDU subiu ao palco para uma primeira análise. “Cada resultado deve ser apreciado em função do quadro concreto em que é construido”, apressou-se a argumentar o comunista.
Logo a seguir, mostrou aquilo que explica a descida face ao resultado de 2014. “Desde muito cedo, e durante vários meses, a CDU teve de enfrentar dificuldades”, que passaram pela “minorização da intervenção, desvalorização dessa intervençao e mesmo de campanhas difamatórias que alimentaram preconceitos” sobre a candidatura comunista. Não concretizou, mas leu-se naquelas palavras uma colagem da situação na Venezuela ao resultado do comunistas. Para João Ferreira, essas atitudes adversas “colocaram dificuldades” à candidatura, diz.
A análise aos resultados virá mais tarde, mas o eurodeputado assume que o que venha a sair desta noite tem consequências óbvias: “Está colocada a necessidade de reforço da CDU” até outubro, quando o Governo de António Costa for (de facto) a votos.
Esta noite, a festa da esquerda mais à esquerda faz-se noutro lado da cidade de Lisboa. O Bloco de Esquerda “afima-se como a terceira força no panorama política nacional e reforça a presença no Parlamento Europeu”, salientou Marisa Matias. Em 2014, o Bloco foi a quinta força mais votada – atrás do MPT, com 4,56% dos votos. Agora, pode dobrar esse resultado e chegar aos três eurodeputados.
A “emergência climática”, a defesa das pensões e dos serviços públicos, os “problemas concretos das pessoas, as ansiedades e os direitos” já faziam parte da carta de intenções com que o Bloco de Esquerda se apresenta em Bruxelas. A partir desta noite, essa missão será feita “com mais força ainda”, disse a eurodeputada, uma das vencedoras da noite e que tem no horizonte a hipótese de passar de uma representação de um lugar para três lugares no Parlamento Europeu. “Cumprimos todos os objetivos que traçámos”, assinala.
O mesmo não poderá dizer a CDU. Marisa Matias não se refere diretamente ao resultado que João Ferreira alcançou mas sublinha a ideia de que “o mapa político está a mudar” e que “o Bloco de Esquerda está a reforçar” a sua posição eleitoral. “E é inegável que há uma derrota da direita nestas eleições”, ainda acrescenta.
A mesma ideia já lá estava quando passavam poucos minutos sobre a divulgação das projeções de voto, às 20h. “Confirma-se o Bloco de Esquerda como a terceira força politica nacional”, sublinhou Jorge Costa no Teatro Thalia, quando ainda estava em aberto um resultado entre os 9 e os 12%. Certa é a “derrota profunda da direita” portuguesa nestas eleições.
Do lado dos bloquistas, há um aumento da representação (para dois ou, eventualmente, três eurodeputados), num resultado que já permite espreitar o calendário e admitir outros voos em outubro. “No contexto das legislativas, podemos trabalhar para que a esquerda seja reforçada”, destacou o dirigente bloquista.