Haverá alguma coisa boa que possamos retirar do aquecimento global? Só se forem paisagens que não eram vistas há mais de 40 mil anos. Foi esta a conclusão a que chegaram seis investigadores da Universidade do Colorado, nos EUA.
Os glaciares do arquipélago Ártico Canadiano – conjunto de ilhas no oceano Ártico, situados no norte do Canadá e a oeste da Gronelândia – que derreteram deixaram à vista locais que estavam escondidos debaixo de gelo há 40 mil anos.
“Não é apenas um acaso”, diz Simon Pendleton, investigador que liderou o estudo publicado no Nature Communications, citado pela CNN. “Estas paisagens antigas estão a ser reveladas numa ampla zona geográfica na ilha de Baffin.”
E a razão não podia ser mais simples: o Ártico pode estar a ter o seu século mais quente desde há 115 mil anos, segundo a investigação.
Para realizar o estudo, os cientistas recolheram, durante os verões de 2010 a 2015, na Ilha de Baffin, 48 amostras de musgos e líquenes (pequenas plantas que nascem da junção entre fungos e algo que faça fotossíntese) nos locais onde estes morreram devido à expansão do gelo há milhares de anos.
Depois, através da datação por radio-carbono – método que usa o carbono para determinar a idade de materiais carbonosos até cerca de 60 mil anos – descobriram que a maioria das plantas estava debaixo do gelo há pelo menos 40 mil anos.
“Normalmente esperaríamos ver idades diferentes em plantas sob diferentes condições topográficas, um local mais alto poderá manter o gelo durante mais tempo. Mas a magnitude do aquecimento global é de tal ordem que tudo está a derreter em todo o lado”, explica o cientista.
Embora sejam antigas, as amostras de plantas recolhidas são da mesma espécie das que vivem atualmente da ilha. Não é invulgar, referem os cientistas, já que estamos a falar de um período de milhares de anos e não de milhões.
“É provável que esta tendência se mantenha e a Ilha de Baffin fique totalmente sem gelo nos próximos séculos, mesmo que os verões não sejam demasiado quentes”, conclui o estudo.