De acordo com um novo relatório da organização não governamental Human Rights Watch, a China está a instalar códigos QR nas habitações de muçulmanos Uigures. O objetivo é ter acesso imediato a dados pessoais dos seus moradores e controlar as suas atividades.
A organização acusa o país de estar a fazer uma enorme campanha de repressão contra minorias étnicas e religiosas. A diretora da HRW na China, Sophie Richardson, diz que o governo chinês está a violar os direitos humanos dos muçulmanos de língua turca no Xinjiang, “numa escala que não se via no país há décadas”.
Segundo informações que antigos moradores de Xinjiang deram à organização, os códigos QR existem nas casas desde o início de 2017. “De dois em dois dias, vinham os oficias e scaneavam o código QR para saberem quantas pessoas moravam aqui. Depois, perguntavam às nossas visitas: “Porque é que vocês estão aqui?””, conta um ex-residente que partiu de Xinjiang recentemente.
Os antigos moradores também acusam as autoridades de recolher dados biométricos das pessoas – como amostras de DNA, impressões digitais e gravações da voz, por exemplo – durante interrogatórios. Além disso, as pessoas são obrigadas a caminhar dentro dos postos de polícia para que possa ser registada a forma de andar.
As autoridades afirmam, contudo, que os códigos QR ajudam no controlo populacional e prestação de serviços. A China ainda não respondeu oficialmente ao relatório da HRW, mas o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, diz que a organização é um grupo “cheio de preconceito” contra a China.
O relatório de 117 páginas da Human Rights Watch foi realizado a partir de entrevistas a 58 antigos moradores do Xinjiang, sendo que 19 deles deixaram o Xinjiang desde janeiro do ano passado.
Em agosto, um painel da Organização das Nações Unidas sobre direitos humanos reunido em Genebra tinha já acusado a China de manter cerca de um milhão de uigures num sistema secreto de campos de concentração, em Xinjiang, com o objetivo de lhes dar uma “educação política” adequada.
O governo chinês diz que estes campos apenas fazem parte de iniciativas governamentais para impulsionar o crescimento económico e a mobilidade social na região de Xinjiang .
Mas, de acordo com ex prisioneiros do campo, uigures e outros muçulmanos presos nos campos estão proibidos de fazer saudações islâmicas, têm de aprender mandarim e saber as músicas de propaganda. Recusar-se a seguir as regras dentro do campo pode signifcar privação de comida ou até ficar de pé um dia inteiro.
Uma das investigadoras da HRW, Maya Wang, acusa a China de, com isto, estar a separar famílias. “Alguns membros estão presos no Xinjiang e não podem sair porque as autoridades confiscaram os passaportes, ou foram detidos e a outra parte da família está fora da China”, refere.
Segundo a investigadora, as medidas de segurança no Xinjiang, fora dos campos, também foram reforçadas e o ambiente é, por isso, muito semelhante ao que se vive dentro do campo. As práticas islâmicas nesta região foram, segundo Maya Wang, realmente proibidas.