Como é que o gelo da Gronelândia pode mostrar a ascensão de civilizações antigas? Parece difícil de imaginar, mas é possível e uma invulgar equipa multidisciplinar de investigadores, que incluiu especialistas em gelo, historiadores económicos ou arqueólogos, provou-o e publicou o estudo no jornal científico Proceedings of the National Academy of Sciences, dos EUA.
A investigação analisou registos das emissões de chumbo estimadas entre 1 100 A.C. (Antes de Cristo) e o ano 800 com base em medições contínuas no gelo da Gronelândia.
A poluição que surgiu durante a expansão das primeiras grandes civilizações europeias – Grécia e Império Romano – espalharou-se por milhares de quilómetros até as camadas de gelo do Ártico.
Essa poluição de chumbo – consequência, principalmente do fabrico de prata para fazer moedas – foi sendo preservada pela queda de neve, que criou sucessivas camadas de gelo. Analisar cada uma dessas camadas, e foram feitas 20 mil medições precisas de amostras retiradas de núcleos de gelo, teve resultados surpreendentes neste estudo.
Os cientistas chegaram à conclusão que a emissão para a atmosfera de chumbo variou de acordo com os acontecimentos históricos, incluindo a expansão imperial, as guerras e as principais pestes.
O primeiro pico de emissões de chumbo aconteceu em 900 A.C. quando os fenícios começaram a usar a rota comercial do Mediterrâneo ocidental, também aumentaram durante a expansão da mineração cartaginesa e romana de chumbo-prata, principalmente na Península Ibérica.
À medida que sucediam conflitos ou instabilidade ao nível político a quantidade de chumbo enviada para a atmosfera também se alterava, tendo atingido o seu máximo durante o Império Romano.
Mas o gelo também conta a parte da queda. Por exemplo, as grandes emissões de chumbo pararam numa altura que coincide com a peste antonina, no ano 165. A epidemia, que haveria de durar 15 anos, e causou a morte a milhares de pessoas, cessou a poluição que só voltaria em grande força mais de 500 anos depois, no início da Idade Média.