No último dia do mês passado (30 de Outubro) a manhã começou agitada para quatro casais portugueses- a Vera e o Hugo, a Manuela e o Tiago, a Rita e o Marco, a Tatiana e o Ivo.
Um susto para um dia contar aos netos
Estavam em Roma para uma sessão fotográfica muito romântica quando às 7:40 horas (6:40 horas) foram surpreendidos com o sismo de 6.6 na escala de Richter e 10 km de profundidade. Atingiu com violência a cidade de Norcia (destruiu a famosa Basílica de San Benedetto) que se situa na Província di Perugia e a 170 km de Roma onde, embora sem gravidade, o sismo também se fez sentir.
O terramoto deu-se três dias depois do de quarta-feira (26 de Outubro) e deixou, segundo as estimativas das autoridades, pelo menos 100 mil pessoas desalojadas.
Os oito protagonistas desta história estavam no hotel a comer e arrumar tudo para fazerem o check out, seguirem para o bairro típico de Trastevere para a sua ultima sessão e daí para o aeroporto (onde tinham de estar ao meio dia).
“A noite tinha sido longa”, diz Tiago Gomes, e era preciso despachar tudo mas, durante aqueles minutos foi como se o tempo tivesse parado. O que sentiram não foi propriamente o edifício (que tinha construção antissísmica e se movia em bloco) a abanar mas sim uma sensação de tontura. “Lembro-me de me sentir zonza e de ver maquilhagem toda a abanar na casa de banho” conta Rita Garcia, reforçando: “foi um bocado o salve-se quem puder”.
Para o Hugo do Rosário – quando viu a mulher a abanar percebeu que ele próprio abanava também e só então percebeu que talvez fosse a terra a abanar -, o momento foi de uma emoção única: “Acho que toda a gente quer sentir um sismo, desde que seja leve. Eu sempre tive curiosidade em sentir catástrofes da natureza. Também gostava de ver um furacão desde que fosse ao longe”, diz.
Um entusiasmo que a esposa Vera não partilhou: “A minha preocupação era pegar nas coisas e ir embora. O Hugo estava eufórico e só queria ir aos outros quartos falar com toda a gente e perguntar se também tinham sentido”.
Uma Roma que sentiram pouco preparada
Quer os casais que estavam nos quartos e viram os candeeiros a abanar quer os que estavam a tomar o pequeno almoço e ouviram louças a cair relatam que a estrutura do hotel estava preparada para o abalo, mas o staff não. “Não recebemos qualquer indicação, os funcionários gritaram ‘terremoto’ e desataram a correr, via-se que não havia um plano de segurança, que estava toda a gente com medo e os funcionários do hotel foram os primeiros a abandonar o barco”, relataram.
Quanto à rede de transportes a opinião é a mesma. Fecharam duas linhas de metro e os autocarros, “se reforçados, não o foram suficientemente” diz Tiago. Enquanto Ivo remata: “Demoramos duas horas a fazer uma viagem de 30 minutos e trocámos três vezes de autocarro. Foi horrível.”
O drama de um país que, com um elevado nível de perigosidade sísmica, dada a sua localização numa zona de cruzamento de duas placas tectónicas, deixa uma imagem pouco preparada.
Um conceito diferente de fotografia
Nuno e João Matos são irmãos gémeos (38 anos) e começaram o seu percurso como fotógrafos de casamentos com a empresa NJMattosPhotography. Há 6 anos decidiram contrariar a sazonalidade da época quente em que todos querem dar o nó e criaram um conceito pioneiro, as sessões “Love in…”.
“Os casamentos acontecem predominantemente entre maio e outubro e nós pensamos em arranjar forma de trabalhar entre outubro e maio” diz Nuno, sobre esta ideia que consiste em levar alguns casais a viajar para outros países e fazer uma sessão pós-casamento em que os noivos se vestem como no dia mais especial das suas vidas (o chamado “trash the dress”) e, num cenário inspirador, têm finalmente tempo para a sessão de sonho que as poucas horas de casamento não permitem.
Esta não foi a primeira sessão que fizeram em circunstâncias adversas, “aterrámos em Paris depois dos ataques de 13 de Novembro, mas continuámos o nosso trabalho, até porque acho que a cidade era a mais segura do mundo naquele momento”, conta o fotógrafo.
Para o grupo, um momento tão importante como o casamento deve ficar registado além da fugacidade da tecnologia. “No meu casamento, quando abrimos a pista de dança saltou-me a aliança e os fotógrafos conseguiram captar-me a apanhar a aliança no ar, de forma completamente genuína. Eu jamais conseguiria isto sem um olhar profissional exterior”, conta o noivo – nada selfie-addicted – Tiago.
Já Hugo confessou que “estava com alguma vergonha de andar vestido de noivo no meio de Roma mas foi espetacular”.
Quatro histórias de amor e uma amizade que Roma uniu
Para quase todos foi a primeira vez em Roma e ficou o bichinho de voltar à cidade romântica que todos concordam que não fica atrás de Paris.
Apesar das adversidades, que foram muitas, o grupo esteve sempre unido e muito animado. Cheio de orgulho dos novos amigos que fez e com quem viveu uma experiência inesquecível garante Tiago
“Segura-me o véu, levanta o vestido, faz barreira para ninguém estragar a foto”, era o que se ouvia entre gargalhadas, concordam a Vera e o Hugo. “Por mim foi tão bom que as fotos até podem não ficar bem que eu vou à mesma guardar só memórias felizes”, diz ele, acreditando que o terramoto e as suas consequências só trouxeram ainda mais força aos casamentos e à amizade entre eles.
Dois casais da Margem Sul, outros dois de Sintra e uma amizade que o Tejo une mais do que separa. “Já temos um grupo no Whatsapp, um jantar de magusto combinado e queremos reunir-nos todos os meses”, diz o Tiago em nome de todos. Sem abalos sísmicos, já agora.
(Artigo de Carolina Bernardo Pereira / Fotografias: Nuno Matos e João Matos)