A capa do semanário satírico Charlie Hebdo, dada a conhecer ao público na passada segunda-feira, foi criada por Luz, cartoonista e um dos sobreviventes ao atentado que matou 12 pessoas na redação do jornal francês. Numa conferência de imprensa carregada de emoção, Luz explicou como e porque fez esta capa onde se mostra Maomé, a chorar, e a mostrar um cartaz onde se pode ler “Je suis Charlie”. Por cima, a inscrição “Tudo será perdoado”.
“Eu invoquei todos os talentos do jornal, aqueles que já cá não estão, aqueles que ainda estão cá”, afirmou. “Tive a ideia de desenhar esta personagem de Maomé, como minha personagem, porque ele existe, pelo menos no coração das pessoas, e, de qualquer forma, existe quando eu o desenho”, continuou.
“Ele é a personagem que destruiu a nossa redação, e uma personagem que, a principio, fez com que fôssemos tratados como cavaleiros da liberdade de imprensa. Um ano depois, quando redesenhámos a personagem fomos tratados como provocadores perigosos e irresponsáveis. Assim, esta personagem permite sermos chamados ou de cavaleiros ou de provocadores, mas, somos, acima de tudo, apenas cartoonistas que desenham pessoas tal como as crianças as desenham”. Luz explicou, em seguida, que desenhou a dizer-se a si próprio “Eu sou Charlie”. “Esta era a minha ideia, mas não era suficiente. A única ideia que restava era desenhar Maomé, eu sou Charlie. Depois olhei para ele, e estava a chorar. Então acima, escrevi: ‘Tudo será perdoado’, e aí chorei”, relatou ainda.
“Tínhamos a primeira página, tínhamos, finalmente, encontrado esta sangrenta primeira página. Esta era a nossa primeira página. Esta não era a primeira página que o mundo queria que desenhássemos, porque não se vêm terroristas, apenas um homem que chora, e esse homem é Maomé. Peço desculpa por desenhá-lo outra vez, mas o Maomé que desenhámos é o Maomé que, para além de tudo, chora”, concluiu o cartoonista.