As gravações contidas num DVD apreendido pela polícia, numa operação no local, realizada em Setembro do ano passado, chegam agora ao público e revelam uma dimensão da facção criminosa que domina o Complexo.
Nas imagens, jovens e adolescentes do sexo masculino exibem armas e fuzis em locais onde se reúnem crianças e famílias para festejar o aniversário de líderes do grupo, conhecidos como Bruninho e Pimpim.
Ao som de funk com letras obscenas e de exaltação do crime, os convidados dão uma demonstração do seu arsenal, empunhando armas de guerra ligeiras.
Segundo o jornal local
O Dia, a festa aconteceu “a poucos metros” do Destacamento de Policiamento Ostensivo da Polícia Militar, “onde os cinco polícias que se dividem em turnos de 24 horas pouco podem fazer”.
O referido órgão de comunicação social descreve: “Trata-se de uma realidade cruel, com velhos e crianças, meninos e meninas (alguns recém-nascidos), e centenas de pessoas de bem lado a lado com marginais empunhando as mesmas armas de guerra usadas por americanos e terroristas no Oriente Médio”.
Desde 2007, cerca de 400 armas foram apreendidas em acções policiais nesta localidade formada por 12 favelas onde vivem aproximadamente 200 mil pessoas.
Segundo o jornal, este volume de armamento representa um arsenal maior do que o disponível em boa parte dos batalhões e de qualquer delegacia da cidade.
A polícia estima que apenas esta facção conta com mais de 200 espingardas e pelo menos 15 metralhadoras anti-aéreas (de uso exclusivo das Forças Armadas, capazes de abater helicópteros). Nas gravações, pelo menos 11 espingardas diferentes foram identificadas.
As autoridades de segurança do Rio de Janeiro admitem que seriam precisos, pelo menos, 800 polícias para patrulhar toda a área do Morro do Alemão.
Após a divulgação das imagens, o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, reconheceu aos jornalistas a dificuldade de eliminar a entrada de armas no Morro do Alemão e de suprimir a venda ilícita de drogas.
“O Alemão é uma cidade. Não preciso de dinheiro, preciso de gente. De 700 ou 800 homens para manter patrulhas fixas e móveis nos moldes do Dona Marta e da Cidade de Deus [favelas hoje pacificadas]. Sabemos o custo social e financeiro que é fazer uma operação lá.”, admitiu em conferencia de imprensa.
O responsável defendeu a presença massiva da polícia naquele local e disse: “As operações nunca vão parar. Quando tivermos informações, vamos com até dois mil homens.”
Em 2007, já houve uma tentativa fracassada de bloquear a entrada de armas no Complexo. Durante mais de um ano a Força Nacional de Segurança ocupou as entradas das comunidades.
O Complexo do Alemão apresenta um dos maiores índices de criminalidade do Rio de Janeiro e os mais baixos indicadores sociais. A região concentra cerca de 40 por cento dos crimes cometidos na cidade.
Actualmente, é um dos três benefiários com as obras do Projecto de Aceleração do Crescimento (PAC), considerado o principal programa do Governo Lula da Silva.