As notícias da “morte” da União Europeia (UE) às mãos da direita radical populista e eurocética parece terem sido “manifestamente exageradas”. A frase atribuída a Mark Twain serve, na perfeição, para descrever o estado de espírito que se vive na ressaca das eleições europeias. Apesar da guinada à direita, o Partido Popular Europeu (PPE) mantém-se como a família política mais numerosa. As forças pró-Europa resistem. E Ursula von der Leyen terá, praticamente, garantida a recondução à frente da Comissão Europeia, podendo até nem precisar de concretizar o “namoro” com os Reformistas e Conservadores Europeus (ECR), onde se inclui os Irmãos de Itália, da primeira-ministra italiana Giorgia Meloni.
Considerando o total de eurodeputados eleitos pelas famílias dos ECR e do grupo Identidade e Democracia (ID) – onde se incluem agora os portugueses António Tânger Corrêa e Tiago Moreira de Sá –, mais os 15 assentos da AfD [Alternativa para a Alemanha] e os 10 do Fidesz de Viktor Orbán, que agora não estão vinculados a nenhuma bancada, os partidos conotados com a extrema-direita política passam a controlar cerca de 20% do hemiciclo. Ainda em cima da mesa está o cenário de coligação de todos estes partidos, o que permitiria criar uma “superbancada” extremista, que se tornaria na segunda maior do Parlamento Europeu (apenas atrás da do PPE). O “projeto” de Orbán passa por juntar Marine Le Pen (do Rassemblement National, ID) e Giorgia Meloni (Irmãos de Itália, ERC), mas as posições eurocéticas e pró-Rússia dentro do ID parecem complicar o objetivo.