“Salvo grandes surpresas, neste momento há o suficiente no que vemos para remover o nível superior de restrição”, referiu Philip Lane, que falou à publicação britânica em antecipação da reunião do Banco Central Europeu de dia 6 de junho. Os investidores têm apostado na redução da taxa de referência, por parte do BCE, em pelo menos 25 pontos base, na próxima semana, numa altura em que a inflação na zona euro caiu para valores próximos dos 2% (2,4% em abril) que a instituição liderada por Christine Lagarde tinha apontado como meta para mexer nos juros da região.
As instituições centrais na Suíça, Suécia, República Checa e Hungria já reduziram os custos dos empréstimos, este ano, para responder à quebra da inflação, mas tanto a Reserva Federal norte-americana como o Banco de Inglaterra ainda não se movimentaram neste sentido. Já o banco do Japão pode até continuar a subir as taxas de referência, por razões que explicámos recentemente.
Questionado sobre se se sentia orgulhoso por o Banco Central Europeu estar em posição de baixar as taxas de juro antes de outras instituições, Lane foi perentório: “os bancos centrais aspiram a ser tão aborrecidos quanto possível, e espero que aspirem a ter um ego o mais pequeno possível.” Recorde-se que o BCE foi dos que mais demorou a começar a subir as suas taxas de juro, na comparação com os congéneres americano e inglês. No entanto, tudo indica que vai ser o primeiro a revertar o movimento, já na próxima semana.
“Lidar com a guerra e com o problema da energia tem sido muito dispendioso para a Europa”, recorda Philip Lane, salientando o facto de a região ter sido atingida de forma bastante mais significativa que outras economias, graças ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia. No mesmo sentido, refere, o BCE poder agora baixar a taxa de juro, significa que “a política monetária tem garantido que a inflação reduz a um ritmo apropriado. Nesse sentido, creio que fomos bem sucedidos”.
“O cenário continuará a ser acidentado e gradual”, referiu ainda Lane. “A melhor forma de enquadrar o debate, este ano, é tendo em consideração que ainda teremos de seguir políticas restritivas” nos próximos meses, e até ao final de 2024, salientou.
Em 2022, a inflação na zona euro atingiu valores acima dos 10%, tendo finalmente aliviado para mínimos de quase três anos em abril, quando se ficou pelos 2,4%. Estima-se que a inflação de maio, que será conhecida esta semana, se tenha fixado nos 2,5%. Philip Lane lembrou que no atual contexto, ainda há uma “pressão de custos significativa”, reflexo do acelerado crescimento dos salários, que está a impulsionar os preços dos serviços, e que obrigará à manutanção da tal política restritiva por parte do BCE. Mas, “no próximo ano, com a inflação a aproximar-se visivelmente da meta, e garantindo que a taxa de juro desce para um nível consistente com a meta estabelecida – aí teremos um debate diferente”, assegurou.