António Farinha, da Comissão da Pró-Associação de Residentes e Proprietários do Pisão, aldeia que está previsto ser submersa com a construção do Empreendimento de Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos (EAHFM) do Crato, explicou hoje à agência Lusa que este é o segundo inquérito à população desde que o projeto arrancou.
O primeiro inquérito, lembrou, decorreu em 2021 e tinha como objetivos “perceber como as pessoas queriam ser realojadas” e “o que gostariam que acontecesse”, nomeadamente “onde gostariam de ir viver, o que gostavam mais na aldeia” ou o que queriam “que a nova aldeia pudesse oferecer”.
Este novo inquérito, agora, “repete um pouco as perguntas anteriores e acrescenta novas perguntas, mais precisas, mais orientadas” para aquilo as pessoas querem que a nova aldeia tenha, explicou António Farinha.
O estudo, efetuado por uma empresa especializada e promovido pela Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo (CIMAA), responsável pela execução do projeto de construção da também chamada Barragem do Pisão, quer que a população se pronuncie sobre quais “os equipamentos coletivos ou o tipo de casas” que ambiciona ter na nova localidade.
E quer “perceber um bocadinho o que [os habitantes] gostavam de manter e que tipo de mudanças gostariam de ter na nova aldeia”, apontou o porta-voz da Comissão da Pró-Associação de Residentes e Proprietários do Pisão.
O inquérito deverá ficar concluído “no espaço de três a quatro semanas”, estando, nesta altura, a decorrer os agendamentos com os moradores e proprietários para que o trabalho possa ser efetuado no terreno.
A iniciativa surge na sequência de uma reunião que decorreu, no sábado passado, na aldeia de Pisão, juntando representantes da CIMAA, da Câmara de Crato e da Comissão da Pró-Associação de Residentes e Proprietários do Pisão.
“Esta reunião foi muito fomentada por nós e teve duas componentes”, uma delas “a do inquérito e explicar às pessoas o que é o projeto global, o que vai ser a barragem, as valências que vai ter, algumas curiosidades”, indicou António Farinha.
A segunda parte da reunião, segundo o responsável, ficou marcada pelas explicações em relação “à parte logística do questionário”, nomeadamente como os moradores e proprietários vão ser contactados.
“Queríamos conhecer o inquérito porque, na nossa perspetiva, é o momento para as pessoas se poderem pronunciar sobre aquilo que têm e como é que gostariam de ver isso projetado na nova aldeia”, disse.
O EAHFM do Crato envolve um investimento total superior a 200 milhões de euros, dos quais mais de 141 milhões financiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
O projeto inclui ainda a construção de uma central fotovoltaica flutuante, de 150 megawatts (MW), cujo investimento, no valor de cerca de 51 milhões de euros, não está inscrito no PRR.
Entre outras componentes, o projeto contempla, além da barragem e da central fotovoltaica, uma central mini-hídrica e canais para regadio agrícola e sistema de abastecimento público de água.
A barragem vai permitir regar cerca de 5.500 hectares e, segundo o cronograma submetido pela CIMAA à Comissão Europeia, as obras de construção deverão estar terminadas no final de 2026.
A albufeira vai surgir numa área de 10.000 hectares, ficando submersa a aldeia de Pisão, que atualmente conta com cerca de 70 moradores e 110 casas.
A albufeira, uma reivindicação histórica da região, vai também garantir o abastecimento às populações dos concelhos de Alter do Chão, Avis, Crato, Fronteira, Gavião, Nisa, Ponte de Sor e Sousel, num total de cerca de 55 mil pessoas.
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