“A tecnologia tem imenso poder para fazer bem, mas com isso também vêm grandes riscos,” avisou esta quarta-feira a comissária europeia com a pasta da Concorrência, na sua intervenção durante a Web Summit, que até amanhã decorre em Lisboa. “Pode ser como numa montanha russa – pode ser divertido, mas só entras se souberes que vais estar seguro. É o desafio que enfrentas hoje – se vais estar seguro, se os teus valores fundamentais, aquilo em que acreditas, são protegidos,” acrescentou Margret Vestager.
Para a comissária, no centro da relação entre consumidores e grandes tecnológicas tem de estar a confiança, que garante que os dados são usados para prejudicar direta ou indiretamente os consumidores, seja pondo em perigo informação sensível e pessoal, seja deixando que as grandes corporações usem o poder dos dados para dominar o mercado.
Essa confiança foi posta em causa, com informação roubada, mal usada, com empresas a usar mal os poderes no mercado a expensas dos consumidores,” apontou. “Quando poucas companhias têm tão grandes quantidades de dados, dificulta a concorrência de outras. E, sem concorrência, os clientes perdem.”
E não demorou a apontar dedos, trazendo o exemplo da Google – multada no verão por Bruxelas em €4,34 mil milhões, por abuso de posição dominante do sistema de exploração para smartphones Android. “Tem sido um dos grandes inovadores. Mas porque deveremos colocar tudo nas mãos de uma empresa? Não podemos olhar para o lado quando ameaça limitar a concorrência.” E garantiu que a Comissão não ficará parada: “Quando uma empresa tem toda a informação, reduz a concorrência. Não deixaremos que isso aconteça.”
Ainda com o uso não autorizado de dados de utilizadores do Facebook pela Cambridge Analytica fresco na memória, e com sucessivas notícias de tentativas de condicionamento da opinião pública através das redes sociais, a comissária europeia defendeu que a entrada em vigor do Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD) devolveu às pessoas o poder sobre os seus dados. E apelou para a necessidade de concentrar forças para evitar ciberataques e a ação de hackers que possam pôr em causa as instituições europeias.
“Para proteger as eleições para o Parlamento Europeu que aí vêm [maio de 2019], para que tomes a decisão com base naquilo em que acreditas e não porque estás a ser manipulado,” sublinhou, defendendo depois que o papel da inovação é estar ao serviço da melhoria das vidas das pessoas: “Não há necessidade de pedir-lhes que desistam da democracia, da privacidade e da justiça em nome da inovação. A tecnologia deve proteger e impulsionar esses valores,” concluiu.