Aumentos de taxas de juro ou a retirada gradual do programa de estímulos apareceram mais cedo do que era de esperar na lista de opções de Mario Draghi. A taxa de inflação da zona euro voltou, pelo terceiro mês consecutivo, a disparar e estacionou em fevereiro nos 2%, valor de referência do Banco Central Europeu (BCE) para intervir na política monetária.
Em Berlim, ano de legislativas, cresce a pressão para Frankfurt agir face à alta dos preços. As poupanças alemãs continuam a ser remuneradas próximas de zero, com base na taxa directora do BCE, num momento em que a economia dá sinais de aquecimento a nível de preços. O ministro das Finanças da Baviera, Markus Soeder, estima que as poupanças estejam a perder cerca de cem mil milhões ao ano.
O presidente do BCE tem afastado, para já, o fim da política expansionista até que a tendência do nível de preços seja duradoura, sustentada e representativa da zona euro. Draghi tem valorizado mais a inflação core – que exclui os preços mais voláteis da energia e alimentação. E, neste ponto, os números continuam a dar-lhe razão.
A primeira estimativa do Eurostat, divulgada esta quinta-feira, mostra que a inflação core está estagnada nos 0,9% desde dezembro. Ao contrário, a rubrica da energia cresceu 9,2% no mês passado e a da alimentação não processada 5,2%. O nível de preços, ao mesmo tempo, está pouco harmonizado pelos 19 países da zona euro. Países, como Portugal (1,3%), Itália (1%) ou Irlanda (0,2%), continuam sem grandes vestígios de pressões inflacionistas, de acordo com dados de janeiro. Já a Alemanha rompeu a barreira dos 2% este mês. Os dados oficiais, divulgados esta quarta-feira pela Destatis, indicam que a taxa de inflação alemã acelerou de 1,9% para 2,2% em fevereiro.
Jens Weidmann, presidente do banco central alemão (Bundesbank), foi o primeiro a assinalar que o BCE pode rever em alta a estimativa de inflação no próximo dia 9 de março. “A inflação este ano pode ser maior que a projeção atual”, disse esta quarta-feira num discurso na Eslovénia. Frankfurt estima que a taxa de inflação da zona euro seja de 1,3% este ano, antes de acelerar para 1,5% em 2018. E, tal como na Alemanha, o mais provável é que a revisão seja de mais cinco décimas.
Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças, e a própria chanceler têm apontado o dedo à política monetária com bastante frequência e em dois tabuleiros. Por um lado, fazem notar de uma forma bastante sonora que a atual política monetária não está a responder aos dados da inflação. Por outro, perante as críticas da nova administração norte-americana à competitividade da economia alemã, respondem que a culpa do euro fraco é da exclusiva responsabilidade das orientações monetárias de Draghi.
No final de 2016, o BCE abrandou o ritmo de compra de ativos de 80 para 60 mil milhões de euros até dezembro deste ano e impôs novos critérios para a compra de obrigações de um Estado – uma decisão que empurrou os juros da dívida portuguesa a dez anos para lá dos 4%. Frankfurt, por enquanto, resiste a dar mais sinais do fim deste programa de estímulos (QE) e afasta, para já, qualquer subida das taxas – um ciclo que a Reserva Federal norte-americana (Fed) já iniciou e deve reforçar este mês.