Se Armando Pereira é o operacional do grupo Altice, Patrick Drahi é o seu cérebro, o chairman por excelência e direito. Igualmente reservado, este marroquino de origem, com 51 anos, é um bilionário que figura nas listas das maiores fortunas do mundo. A Forbes aponta-o como o 76.º homem mais rico do planeta, com um património avaliado em 13,3 mil milhões de dólares. Uma posição conquistada à base de comprar barato e vender caro. Até que foi estabilizando no setor das telecomunicações e, no último ano, saltou para a ribalta e parece agora apostado em consolidar o grupo como uma das grandes multinacionais do setor.
Natural de Casablanca, Marrocos, mas de origem israelita, partiu aos 15 anos para Montpellier, França, com os seus pais, dois professores de Matemática. Habituado a um país quente, alguns registos mostram como terá sofrido com o frio. Quando se mudou para Paris, tal não o impediu de se ter formado numa das mais prestigiadas escolas: a École Nationale Supérieure de Télécommunications de Paris, onde se licenciou em engenharia.
Espírito empreendedor
Começou a sua carreira profissional em 1988, no grupo Philips como investigador, no laboratório de pesquisa, na área da fibra ótica. Saiu para se juntar, em 1991, ao grupo norte-americano e escandinavo Kinnevik-Millisat, interessado no desenvolvimento de uma rede privada de cabo em Espanha e França. Foi também aqui que se envolveu pela primeira vez nas cadeias comerciais de televisão no Leste da Europa.
Ambicioso quanto baste, Patrick Drahi quis avançar por conta própria e criar uma empresa sua. Desenvolver o seu próprio império. Em 1993, deu o salto. E fundou a CMA, uma sociedade de consultadoria, especializada em telecomunicações e media, e que se responsabilizou pela introdução das primeiras redes de cabo em Pequim. Foi, por esta altura, que subcontratou a empresa de Armando Pereira, e que, entre os dois, nasceu uma bela amizade que já conta com mais de 20 anos.
Nos anos seguintes, Patrick fundou duas companhias de cabo, começou a comprar empresas em dificuldades, a reestruturá–las e a vendê-las. “Comprar barato e vender caro” foi a estratégia seguida que lhe garantiu lucros chorudos.
Em 2002, chamou definitivamente Armando Pereira e mais um sócio para que se lhe juntassem na fundação da Altice, hoje cabeça de um grande grupo de telecomunicações, com presença em 10 países e com mais de 45 milhões de subscritores. Há um ano, a Altice S.A. passou a ser cotada na bolsa de Amesterdão, Holanda, tendo começado com uma cotação de €28,5 e está hoje a €75,55, o que lhe dá uma capitalização bolsista de 18,7 mil milhões de euros.
Valeu bem a pena a Patrick Drahi ter ouvido da boca do presidente-executivo do conglomerado empresarial francês Vivendi, Jean-René Fourtou, um indignado “está doido?” quando, em 2012, lhe disse que queria comprar a SFR, a segunda maior operadora de telecomunicações de França, logo a seguir à Orange, vencendo a poderosa Bouygues nesta disputa pelo controlo da SFR. David engoliu mesmo Golias.
Muitos operadores do mercado ainda o veem como um agente de fundos de investimento. As suas empresas principais são sustentadas por uma dívida financeira que, no entanto, se bem gerida, pode ser, por si só, geradora de potenciais lucros. Num setor pouco permeável aos ciclos económicos – a última coisa que as pessoas cortam é o telefone e o sinal de TV – com potenciais milhões de subscritores, a valorização do negócio pode pagar os juros da dívida e ainda gerar lucros no final.
Um novo império
Se o negócio se expandir e crescer. A concorrência começa a olhar este grupo com outra seriedade, e alguns, em Portugal, admitem que ele se sabe rodear dos melhores, tendo ido buscar muita gente à banca de investimento. “Têm sabido rodear-se de gente capaz na frente financeira”, garantem.
Ora, o grupo deste franco-israelita é como as famosas matrioscas russas: uma sociedade-mãe, que detém sociedades, que detêm outras sociedades. “É uma forma de controlar ativos sem ter de investir o montante necessário caso controlasse cada uma com mais de 50%”, explica um analista que vai seguindo o setor. Obviamente, a maior parte das suas sociedades têm morada fiscal no Luxemburgo.
Recentemente, Patrick Drahi aventurou-?-se em investimentos pessoais e entrou no setor da comunicação social. Os seus projetos pessoais passam, segundo uma fonte próxima, por formar um grande grupo internacional, com posições fortes no negócio dos conteúdos editoriais e comerciais, nos países onde a Altice estiver presente. Depois de ter salvo da falência um dos mais antigos e prestigiados jornais de esquerda – o Libération -, em abril do ano passado, logo no início deste ano o grupo belga Roularta vendeu-lhe as suas mais importantes publicações: o L’Express, o L’Expansion, e a Studio Ciné live, entre outros.
Em Portugal, há quem aposte que ele terá os olhos postos na TVI e na Controlinveste, duas entidades com posições potencialmente vendedoras. Mas não é de excluir que possam surgir outras surpresas.
Patrick Drahi vive em Genebra, na Suíça, com a mulher e os seus quatro filhos, apesar da cidadania francesa. É um típico cidadão do mundo, que viaja constantemente. Quando está em Paris, estabelece o seu quartel-general no luxuoso Hotel Scribe, bem no centro do coração da Cidade Luz, junto à Opera.
Os filhos seguiram-lhe já as pisadas, distribuídos por Lausana, Suíça, Bristol, no Reino Unido, e Telavive, em Israel. Nesta cidade adquiriu um luxuoso apartamento na famosa Torre Rothschild. Para manter a união familiar, Drahi estabeleceu a sexta–feira, como manda a tradição judaica, dia do jantar de família, na casa de Genebra.