A inflação parece ter chegado em força ao futebol, um mercado já de si insuflado, em que os gastos estão quase sempre em alta, ora alavancados por um clube histórico, ora – e cada vez mais – impulsionados por um emblema nas mãos de um Estado ou de um bilionário. Desta vez, é o Chelsea a pulverizar todos os registos anteriores, elevando a fasquia muito acima do que até hoje se tinha visto. É outra vez o Chelsea, talvez seja mais correto assim, mas agora com um novo protagonista a passar os cheques.
Desde que Roman Abramovich adquiriu o clube londrino, em 2003, os blues tornaram-se um novo-rico no panorama do futebol mundial. De cofres quase sem fundo, habituaram o mercado a grandes transferências de jogadores para Stamford Bridge – uma das primeiras vagas, no inesquecível verão de 2004, na sequência do Europeu de seleções e da conquista da Liga dos Campeões pelo FC Porto, teve como atores principais os portugueses Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira e Tiago Mendes, além do técnico José Mourinho.
A saída do oligarca russo, no ano passado, por força da invasão da Ucrânia pela Rússia, porém, em nada irá beliscar a fama de esbanjador que o Chelsea ganhou nas duas primeiras décadas do Século XXI. Pelo menos a julgar pela primeira abordagem ao mercado sob o comando do bilionário norte-americano Todd Boehly, o empresário que lidera o consórcio de investidores que agora detém o Chelsea e que é também coproprietário dos Los Angeles Lakers, equipa histórica do basquetebol da NBA, e dos Los Angeles Dodgers, da liga norte-americana de basebol.
Vejamos: na primeira janela de transferências, encerrada a 31 de agosto, o clube gastou 282 milhões de euros em contratações; neste mercado de inverno de janeiro, o valor do investimento em reforços atingiu os 330 milhões. Total despendido na presente temporada: 612 milhões de euros. Recorde anterior: 380 milhões, Barcelona, época 2017/18. Comparado com Todd Boehly, Roman Abramovich não passava, afinal, de uma espécie de Tio Patinhas.
Para este registo anual, que não fica muito longe de duplicar o do Barça de há cinco épocas, contribui decisivamente o ataque ao mercado neste primeiro mês do ano. Antes da chegada do médio argentino do Benfica Enzo Fernández, garantido no último dia por 121 milhões de euros – o negócio mais avultado de sempre na Premier League inglesa -, já pertencia ao Chelsea a maior transação deste janeiro: a do extremo ucraniano Mudrik, contratado ao Shakhtar Donetsk por 70 milhões de euros.
No top-10 dos mais caros nesta janela de mercado, de resto, consta ainda mais um trio que se comprometeu com os blues, casos do defesa-central francês Benoît Badiashile (recrutado no Mónaco por €38M), do extremo inglês Noni Madueke (PSV Eindhoven, €35M) e do lateral direito francês Malo Gusto (Lyon, €30M), três apostas para o futuro.
Até o valor de um empréstimo de seis meses parece surreal neste contexto superinflacionista, como acontece com os 11 milhões de euros pagos ao Atlético de Madrid pela cedência do avançado português João Félix até final da época.
Com uma fortuna avaliada pela Forbes em mais de cinco mil milhões de dólares, Todd Boehly chegou, viu e investiu, bem na senda do seu antecessor e sem poupar gastos. Quanto a vencer, mais tarde se verá. Por agora, o Chelsea segue em 10º lugar na Premier League, ao fim de 20 jornadas, arredado da luta pelo título e a 10 pontos dos lugares de acesso à Liga dos Campeões.