Faltam menos de dois meses para começarem os Jogos Olímpicos, em Tóquio, que acontecem de 23 de julho a 8 de agosto, mas a maioria da população japonesa quer o seu cancelamento devido à pandemia da Covid-19. Com 12 mil mortes provocadas pelo vírus desde o início no Japão e o número de casos a aumentar, os japoneses temem que a competição piore ainda mais o cenário. Um inquérito da Asahi Shimbun, publicado recentemente, revelou que 83% dos japoneses gostariam que o evento fosse adiado ou cancelado.
Agora, um novo relatório, publicado esta quarta-feira pela British Association for Sustainable Sport, traz à tona outro problema dos Jogos Olímpicos deste ano: a humidade e calor (cada vez mais) intensos no Japão – na altura dos jogos olímpicos, a temperatura será das mais altas do ano- podem prejudicar de forma séria os atletas e todos os envolvidos na competição, com possibilidade de sofrerem “queimaduras solares, deficiência cognitiva, exaustão pelo calor ou colapso por insolação”, lê-se no documento.
O relatório descreve as principais preocupações de atletas olímpicos, com vários testemunhos seus, mas também de cientistas sobre o impacto do aumento das temperaturas para a saúde nesse país, explicando o impacto negativo do calor em provas como triatlo, a maratona, o ténis e o remo, e refere ainda que a temperatura média anual na capital japonesa “aumentou 2,86 graus Celsius desde 1900, mais de três vezes mais rápido que a média mundial”.
“É um momento horrível quando vemos atletas a passar a linha, os seus corpos são mandados para trás em total exaustão, e depois não se levantam”, diz, aos autores do estudo, a atleta olímpica britânica Melissa Wilson. No documento, são dados conselhos aos atletas olímpicos sobre as melhores formas de darem a volta ao calor intenso durante a competição.
À CNN, o meteorologista Taylor Ward explica que a combinação do calor com níveis de humidade muito elevados têm feito com que haja “várias ondas de calor mortais” durante o verão no Japão, nos últimos anos. “Estas condições vão colocar, sem dúvida, uma pressão extrema sobre os atletas nos locais ao ar livre durante as Olimpíadas”, acrescenta o especialista. Em 2018, uma onda de calor no país matou mais de mil pessoas e, no ano seguinte, mais de 5 mil foram hospitalizadas numa semana devido às temperatuas elevadas.
O relatório alerta, ainda, para o facto de a crise climática poder vir a inviabilizar eventos desportivos no futuro. “Os organizadores olímpicos devem levar a sério os avisos deste relatório ou correrão o risco real de os atletas entrarem em colapso devido à exaustão pelo calor”, avisou Mike Tipton, professor de fisiologia humana e aplicada na Universidade de Portsmouth, em Portsmouth, Reino Unido.
Os organizadores dos Jogos Olímpicos publicaram, entretanto, aquele que será o plano para minimizar os riscos associados ao calor durante a competição, com a designação de locais próprios mais frescos e onde as pessoas possam hidratar-se.
Já foi decidido, também, que algumas provas não acontecerão em Tóquio devido às altas temperaturas: a maratona, por exemplo, foi transferida para Sapporo, a mais de 800 quilómetros da capital do Japão, onde as temperaturas devem ser muito mais baixas.