Perto do hotel, debruça-se sobre as areias, como se quisesse estender-se nelas, ou então jogar-se ao mar, um colossal embondeiro. Caiado, o tronco confunde-se com uma grande parede branca. Também as raízes, que aparentam ter nascido em tentacular erupção do meio do passeio de cimento, foram pinceladas com cal. É para evitar pragas, dir-me-iam, em São Tomé como no Alentejo, quando o meu ceticismo questionasse a prática e o respetivo sustento científico. Mas não vou por aí. De que vale a ciência num país em que, numa das vezes em que admiro o embondeiro, que alberga à sombra, além do próprio vendedor, deitado no chão para uma sesta, um quiosque de cartões de telemóvel recarregáveis, que toda a gente compra a todo momento, e que anuncia em letras inclinadas Turbo Net dá mais power aos teus dias, de que vale a ciência, perguntava, se mesmo ali ao lado passa, a grande velocidade, um rapaz sem pernas, deitado de borco sobre o assento de uma cadeira de rodas, usando as palmas das mãos como plantas dos pés, para fazer mover os pneus sobre a gravilha da berma, como quem puxa uma carroça, ou um riquexó?
Quando cheguei a São Tomé, fui recebido, às cinco da tarde, por um céu escuro como nunca vira, uma espécie de noite antes da noite, mas de tons plúmbeos, e por um ar colante, que me esforcei por interpretar como um primeiro afago das forças naturais que comandam a atmosfera equatorial africana. Depois, percebi, o que pousava em mim era mesmo chuva e era quente, pois apesar de estarmos a entrar na gravana, o período frio e sem precipitação, o termómetro do meu telemóvel marcava 28 graus. Subi para a pick-up de um dos funcionários do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, que me deu conta de que o céu escuro era mesmo o princípio da noite, e me transportou pela marginal mal iluminada. Cães vadios ziguezagueavam, embriagados, senhoras pediam boleia na beira da estrada, com os pés enlameados, uma placa da Delta Cafés tremeluzia e, logo depois, chamava a atenção uma da Super Bock. De muitos em muitos metros, a escuridão dava lugar a pontos de luz que anunciavam construções: a sede do Sporting de São Tomé; Diogo Vaz, a casa do melhor chocolate do mundo; a Igreja do Poder de Deus; e, finalmente, o hotel.