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É um daqueles filmes que se prolongam, mesmo depois de terem terminado. Porque têm este poder de se agarrarem às horas que se lhes seguem, e os momentos (terríveis, diga-se) prolongam-se numa sensação amarga. Já nas obras anteriores, “24 City” ou “Natureza Morta”, o realizador Jia Zhang Ke explorava esta zona de desconforto, de pessoas entaladas entre as duas épocas da China pós-comunista, com personalidades esmagadas, comprimidas, com um pé no capitalismo ocidentalizado e desenfreado e outro nas tradições ancestrais que se lhes prendem aos tornozelos como raízes emaranhadas. Aliás, logo aos primeiros minutos do filme, vemos uma carrinha de caixa aberta, que dá a volta à estrada, depois de passarmos por um pagode chinês e estátuas de militares, e mostra, literalmente, à câmara, o insólito de um quadro litúrgico cristão, segurado por um grupo de trabalhadores. É de pecado de que vai falar a seguir – mas o que compreende este conceito tão lato e subjetivo? São quatro histórias, quatro protagonistas, quatro províncias e que, de certo modo, se tocam, ora de maneira mais subtil, ora mais insinuante, mas nunca de forma óbvia. O que as une é a violência. Antes do genérico já ocorreram três tiros, três mortos, uma explosão, e um camião, entornado na estrada, com tomates derramados que circundam um cadáver. E na violência está contida a fúria, a revolta, o mal-estar, a vingança, a injustiça, o desespero, a lógica de que quem está perdido por cem, perde-se facilmente por mil – justamente por não ter nada a perder. E as coisas começam a acontecer quando as circunstâncias colocam uma arma (uma espingarda, um revólver, uma faca de descascar fruta, um ferro) na mão de um homem. Ou na do mineiro injustiçado, que envolve a espingarda num lenço com um tigre (soltou-se a fera) e vai deixando poças de sangue por onde passa, porque é tão fácil premir um gatilho; ou a mulher, rececionista num hotel com sauna, cujo amante nunca irá largar a mulher, e é forçada e humilhada com um molho de notas por uns clientes ricos.( de sublinhar a excelência deste casal de actores). Curiosamente, há pequenos pormenores que envolvem animais e sublinham e antecipam, como um agouro mau, a violência humana: um cavalo atrelado selvaticamente chicoteado até sucumbir, o pato a ser sangrado vivo, uns peixes quase sufocados num saco de plástico, umas cobras a serem alardeadas – testemunhas vivas, vítimas mudas e ninguém roga por elas.
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