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Há um livro importante que questiona o que é moralmente mais condenável: a infidelidade ou a fidelidade forçada. A realizadora canadiana ainda há poucos anos (2011) nos apresentou uma filme sobre as incoerências e as inconstâncias humanas, e tudo aquilo “que dá dentro da gente e não devia, que desacata a gente que é revelia, que é feito uma aguardente que não sacia”… Era uma comédia romântica, mas inundada de melancolia, que levava um título de Leonard Coen, Take This Walz, protagonizada por Michelle Williams e Seth Rogen… Neste documentário, centrado num micro-cosmos intimista, em que se vira a câmara para os segredos da sua própria família, a realizadora, curiosamente, parece não se afastar do mesmo tema. Com uma óptima banda sonora, e recurso a testemunhos do(s) pai (s), dos irmãos, tias, amigas da mãe, imagens de arquivo, e algumas ficcionais, Sarah Polley, vai descortinando uma narrativa do passado, que é a de si própria, da sua família, da sua mãe. Porque, diz em off, “o meio de uma história não é uma história, é uma amálgama, é um barco estilhaçado por um iceberg”. Todas as famílias têm as suas histórias secretas, e esta, para a realizadora, é quase genesíaca… Tem a ver com o (seu) princípio de tudo, a sua concepção, os seus genes… E mais de metade do documentário é focado numa mãe, uma daquelas personalidades que ocupam muito espaço (pelos vistos nos coração dos outros, também). Uma mulher com fúria de viver, actriz de teatro no Canadá, a dar gargalhadas sonoras, a dançar, “quando ela entrava até os discos saltavam”, conta um dos filhos. Ao contrário de um pai, introvertido, metido consigo mesmo, entretido nas paciências, curvado sobre a mesa. E enquanto ela fazia dez coisas ao mesmo tempos, ele fazia meia. A exuberância da mãe era tanta que não se lhe procuravam segredos nem subtilezas, zonas ocultas ou sombrias. Questiona-se a exposição, o próprio conceito de documentário, e a memória e a forma como ela se propaga e cristaliza. E sobretudo a ideia de que pode haver histórias fantásticas cá dentro, muito antes de se procurar lá fora. Desde que o individual ganhe um interesse universal. Como aquela frase que diz, basta trocar os nomes e somos nós. É o caso: Um filme, inteligentemente arquitectado, com suspense, picos de emoção como numa ficção, sobre as contradições , as derivações, os enigmas mais íntimos, os paradoxos. As pessoas, em suma, e seus (des)encontros.
De Sarah Polley. Histórias que contamos. Stories We Tell. Documentário. 108 min. Canadá. 2012
Duração
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